Biografia – Fernando Jorge

O Poeta e Ficcionista Silas Corrêa Leite tem 54 anos, é da histórica e boêmia aldeia de Itararé-São Paulo, Brasil, terra de celebridades artísticas nacionais como o Maestro Gaya, Luiz Solda, Rogéria Holtz, Irmãs Pagãs, Carlos Casagrande, Regina Tatit, Jorge Chuéri, Luiz Barco, um celeiro de artistas.

Em Itararé foi bóia-fria, engraxate, vendedor de dolés de groselha preta, garçom, vendedor de jornais.

Família pobre, seu pai era acendedor de lampiões de gás e sua mãe mestiça de negro com índio. Com 16 anos escrevia pros jornais de Itararé, tinha programa na Rádio Clube de Itararé e, nos shows pratas da casa, imitava ídolos da Jovem Guarda. Por causa de uma paixão impossível, em 1970 com apenas a quarta-série do primário migrou para Sampa.

Sem dinheiro no bolso/Sem parentes importantes/Vindo do interior, como na balada do Belchior, morou em pensões e repúblicas, passou fome, voltou a estudar, fez Direito, ganhou ficha nos p

Causo da Batalha de Itararé (Inédito)

O Último Causo do “Zé Beleza”, o Maior Contador de Palha de Santa Itararé das Letras

“Quem conta um causo ou um conto//Aumenta um tanto feito um tonto…” (Silas e suas “siladas”)

Para Romero, filho da Dona Santa coberta de ouro e prata

(In Memóriam)

– … é bem perigoso sim sor… o Getúlio Vargas viria alarmado feito uma paca obesa montado num alazão azul-biscate, o Hitler vestindo farda amarelo-ovo-choco, mais falador do que o Tó do Zuza em velório (querendo aparecer mais do que o morto), o Nero, todo maricón pitando alguma coisa com um Cusarruim de uma perna só e ainda toda vermelhona; com os olhos esfumaçados e com um baita cheiro-de-fedô de quem queimou o cabo do facão, todos querendo invadir Itararé, bombardear nossa cidade, já pensou, hein, Zé Maria dos Causos? Sartei de banda. Onde já se viu isso. Tem cabimento… tem cabimento… bostiou tudo…

Coração de Estudante

“Coração de Estudante(…)/Nova aurora a cada dia…”
(Milton Nascimento – Coração de Estudante)

Pensa que é fácil? Levantar cedo, todo santo dia útil. Um monte de “Professor Pardal” a mil por hora pegando no pé. Textos didáticos, lições por atacado, trabalhos aos montes, livraços para ler aos sopetões, um atrás do outro. Simulados às pencas. Pesquisas do arco da velha. Ensaios psicológicos para agüentar o tranco. Avaliação contínua. Conversa pra boi dormir. Provas a dar com pau, uma loucura. Haja coração. Pesquisas, debates, laboratórios, pressão saindo pela tangente, quase um faniquito entre o stress e a faca cega da sobrecarga de informações. Aluno sofre, se não entrar no pique. Não dá nem para sonhar em “cabular” aquela chata aula sobre física quântica. Nem pra namorar direito a gata-fera pedaçuda. Muito menos descolar uma horinha para curtir um filme de terror, um futebol de botão que seja, uma praia no final

Coió

“…eu vim te trazer, Menino
Não ouro, incenso ou mirra
Mas a solidão, minha Pátria”
(Silas Corrêa Leite)

Olhou-se: um trapo! — Os frágeis cabelos ruivos, ralos. Os fundos olhos cinzas, tristes. A fronte com rugas cavando um jeito de infinda melancolia e frustração, intimamente dor imedida. A boca murcha, disforme e torta, mostrando os poucos dentes amarelos e podres. De dar dó. O espelho-Vida era a cruel revelação dele ali. Tinha comido um naco de mamão-papaia achado no lixão fétido e cheio de beronhas de um restaurante vegetariano. As roupas sujas, cerzidas, cheirando mal, toscas, em frangalhos. Camisa gasta, calça puída, mochila carcomida pelos descaminhos inúteis por onde vagara feito um “trecheiro” como diziam os sociólogos puristas.

Nos pés inchados e com veias quase saltando, um par de tênis surrado de andanças (e erranças), com ceroto, pelos percalços de um ir e vir transido, a esmo. O

TIBETE, ROMANCE DE SILAS CORREA LEITE, QUE LIVRO É?

Tibete “Quem somos nós, autointitulados humanos, senão meros cavalos passando de mão em mão e servindo como veículos para que a vida possa escorrer por meio de nossas existências?” Roberto Damatta -E se depois que você consegue “tudo” na vida (e o que é tudo, afinal?), com as mãos limpas, com muito trabalho, profundos estudos, tantos esforços, diversos cursos; com sensibilidade a mil e uma criatividade profissional fora de série, mais dedicação, esmero, e então, um dia, de uma hora para outra, num raro momento finalmente saca. Aturdido descobre que não é nada, que não foi importante o que fez, que não significa muita coisa, afinal, pois tudo isso não fez você feliz? O que é tudo? O tudo que é nada. E se você, depois de erros e acertos na vida pregressa, como todo mundo, acabar com posses limpas, sendo vencedor numa sociedade podre em que ser vencedor poder ser uma terrível marca ruim – “Quem entra em buraco de rato/De rato tem que transar”, diz

FRAGMENTO DO ROMANCE GOTO DE SILAS CORREA LEITE

Noite de Um Estranho Dentro de Casa, e Sequelas Foi num dia qualquer de um abril antigo e quase inexistente dos anos sessenta (ou seria setenta?), se me lembro direitinho (não querendo lembrar) e ainda me dói o saber inteiro de detalhes, quando chegamos à noitinha em casa, eu e a minha patroa, Sauma, grávida do primeiro filho – iria se chamar, se fosse varão, Vladimir, se fosse mulher, minha esposa escolheu Ética – vindo do Supermercado Andorinha do amigão Sérgio Varoulf, lá onde fomos fazer a feira do mês. Era um sábado, se me lembro bem a data. Mas todo o resto me vem dolorosamente à lembrança sacrificial como se fosse ainda ‘já-hoje’ mesmo. Impossível não recordar. Não quero me decompor, não posso, mas em algum lugar-prurido lá no mais íntimo neural de mim, isso tudo que vou contar me dói como se um moinho de vento fantasma, invisível, e assim me corrói a alma-navalha, feito um pântano que convive paralelo ao meu Eu de Mim, na mora

NOVA ENTREVISTA COM SILAS CORREA LEITE

1.Fale um pouco sobre você: seu nome, idade, onde mora e etc… RESPOSTA: Silas Corrêa Leite, 63 anos, Professor aposentado de um dos três trampos (saía de casa as 6 da manhã voltava meia-noite), nascido em Monte Alegre, Paraná colonião (hoje Telêmaco Borba), Paraná, criado em Itararé-SP, cidade histórica das revoluções desde os seis meses de idade, terra de meus pais. Tenho casa em Itararé e casa em SP, onde estou desde 1970; para onde migrei com 18 anos, só com o curso primário, “Sem dinheiro no bolso, sem parentes importantes, e vindo do interior…”, como diria a canção do Belchior. Mas já escrevia desde os 8 anos, descoberto precoce pela professora Jocelina Stachoviach de Oliveira, do Grupo Escolar Tomé Teixeira, e com 16 anos escrevia para o jornal o Guarani. De origem humilde, fui engraxate, boia-fria, vendedor de dolé de groselha preta, auxiliar de marceneiro, garçom, e também com 16 anos aprovado em concurso para locutor na Rádio Clu