Sem categoria

Silas Correa Leite [Poeta, Escritor, Jornalista Comunitário e Educador Brasileiro]

Silas Correa Leite. Educador, Jornalista Comunitário e Conselheiro em Direitos Humanos, começou a escrever aos 16 anos no jornal “O Guarani” de Itararé-SP.

Fez Direito e Geografia, é Especialista em Educação (Mackenzie), com extensão universitária em Literatura na Comunicação (ECA).

Autor entre outros de “Porta-Lapsos”, Poemas, Editora All-Print (SP) e “Campo de Trigo Com Corvos”, Contos, Editora Design (SC), obra finalista do prêmio Telecom, Portugal 2007, e “O Homem Que Virou Cerveja”, Crônicas Hilárias de um Poeta Boêmio, livro ganhador do Prêmio Valdeck Almeida de Jesus, Salvador Bahia, 2009, Giz Editorial, SP.

Seu e-book de sucesso “O Rinoceronte de Clarice”, onze ficções, cada uma com três finais, um feliz, um de tragédia e um terceiro final politicamente incorreto, por ser pioneiro, foi destaque na mídia como O Estadão, Jornal da Tarde, Folha de SP, Diário Popular, Revista Época, Revista Ao Mestre Com Carinho, Revista Kalunga, Revista da Web, Minha Revista (RJ). e também na rede televisiva, Programa “Metrópolis”/TV Cultura; Rede Band/Programa “Momento Cultural”; Rede 21-Programa “Na Berlinda”, Programa “Provocações”, TV Cultura/Antonio Abujamra.

Por ser única no gênero e o primeiro livro interativo da Rede Mundial de Computadores, foi recomendada como leitura obrigatória na matéria “Linguagem Virtual” no Mestrado de “Ciência da Linguagem” da Universidade do Sul de SC. Foi tese de Doutorado na Universidade Federal de Alagoas (“Hipertextualidade, O Livro Depois do Livro”).

Texto acadêmico no link: http://bdtd.ufal.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=197. Premiado nos Concursos Paulo Leminski de Contos, Ignácio Loyola Brandão de Contos; Lygia Fagundes Telles Para Professor Escritor, Prêmio Biblioteca Mário de Andrade (Poesia Sobre SP), Prêmio Literal (Fundação Petrobrás), Prêmio Instituto Piaget (Lisboa, Portugal/Cancioneiro Infanto-Juvenil; Prêmio Elos Clube/Comunidade Lusíada Internacional; Vencedor do Primeiro Salão Nacional de Causos de Pescadores (USP), Prêmio Simetria Ficções e Fantástico, Portugal (Microconto).

Consta em quase 600 sites como Estadão, Noblat, Correio do Brasil, Usina de Letras, Daniel Pizza, Wikipedia, Observatório de Imprensa, Releituras, Cronópios, Aprendiz, Pedagogo Brasil,  Jornal de Poesia, Convívio, Itália, Storm Magazine (Portugal), Politica Y Actualidad (Argentina), Poetas del Mundo (Chile), e outros, inclusive na África.

Publicado em mais de 100 antologias, até no exterior, como Antologia Multilingüe de Letteratura Contemporânea, Trento, Itália; Cristhmas Anthology, Ohio, EUA e na Revista Poesia Sempre/Fundação Bib. Nacional (Ano 2000).

E-mail: poesilas@terra.com.br

Site: www.itarare.com.br/silas.htm

Blog: www.portas-lapsos.zip.net(escolhido um dos melhores do UOL em 2011.)


Livros PORTA-LAPSOS, POEMAS e CAMPO DE TRIGO COM CORVOS, Contos Premiados, à venda no site www.livrariacultura.com.br

fonte: Silas Correa Leite [Poeta, Escritor, Jornalista Comunitário e Educador Brasileiro] | Revista Biografia (sociedadedospoetasamigos.blogspot.com)

Poema Cristo Crucificado

Tomo tu dolor, Cristo crucificado
Y quiero bajarte de ese horror
Quiero arrancar el clavo en tus pies clavado
Para darte el conforte de mi simple amor
Siento dolor, Jesús, al mirar tu estado
Y quiero salvarte de ese terror
Liberar tus brazos abiertos del madero armado
Cantarte una cantiga, darte un
cobertor.

Siento tu dolor, mi Dios, allí clavado
Que vierte tu sagrada sangre,
conductor
Quiero verte puro y eterno,
resucitado
Durmiendo en mi cuello de pobre pájaro-flor…

Tomo tu dolor, grandioso espíritu elevado
Házme tu discípulo, siervo y pastor
Pues descendiste del calvario
y en el cielo reinas alado
Libre del martirio del antiguo imperio
pecador

Tomo tu dolor, Dios bienaventurado
los hombres te llevan como salvoconducto
redentor

Mas insisten aún en tenerte
crucificado
¡Cuando vives y reinas en tu infinito Amor!

[Para Mel Gibson]


-0-

Livroterapia

Biblioterapia, a Terapia da Leitura Que Cura Almas, Corações e Mentes

Livroterapia, Um Remédio Caseiro e Casual Que Escancara e Cura?

-Doutor, estou com graves problemas emocionais, de depressão a falta de apetite, de baixa estima a obesidade mórbida, que remédio o sr me indica?

-Leia o livro tal. Você vai adorar. Vai fazer um bem enorme pra vc. Pratique esportes. Não beba, não fume. Viaje no livro.

-Doutor, pensei em me matar. Não fui uma boa filha. Só fiz coisas erradas. Más escolhas. Agora a idade me cobrando. Caiu a ficha. Preciso de tratamento.

-Vou indicar um remédio: esses livros aqui… Leia-os. Volte a estudar. Se quiser, procure uma igreja, mas lembre-se que um bom livro é melhor do que farmácia, shopping, praia, afinal, vc não pode fugir do lugar que está, do lugar que vc é. Humorterapia tb ajuda. Mas no livro vc se encontra e viaja na maionese, na batatinha… Um ótimo livro é melhor do que Rivotril. Leia e se encontre. Ou se perca. O melhor animal de estimação é um livro. A melhor viagem é para dentro. Ler, amar, e se curar…

Psicólogo poeta? Vá vendo. Quero dizer, vá lendo. Terapia ocupacional: ler vários livros. E consultar especialistas, fazer tratamentos tb. Somando à terapia do perdão, terapia comunitária, estudar muito – fugir, fugir, fugir… nos livros – e fazer regime, se for carência, e nos cursos e viagens encontrar pessoas… Alma gêmea? Nem pensar. Algemas. Prenda-se a um bom livro e tb seja um livro com final feliz. Ler é o melhor remédio. O melhor energético. Livroterapia…

-Dr, preciso de um ansiolítico, uma cura logo, emergencial. Exames. Consultas. Chapas. -Leia esses livros todos, a bula como bibliografia. O laudo é: quem lê, abre a alma, a mente, o coração. Quem não trabalha não se valoriza. Quem não estuda não muda, não sai do lugar. Consumismo é doença. Internet o tempo todo e escrevendo errado é atestado de ignorância virtual. O preço da ignorância é a eterna dependência do achismo, da mesmice. Não seja um coxinha. Vá abrir um livro.

-Dr, como muito. Dr, choro muito. Dr, tenho pesadelos. Dr, preciso de alguém ao meu lado. -Muito bem, paciente, vou indicar medicamentos e… LIVROS. Vá caçar um livro. Vá ler outras vidas. Não foi fácil para ninguém. Seja mais do que um ninguém, seja alguém. Ler é um tratamento eterno… Seja vc tb um livro aberto sobre si mesmo…

Viajar, comer, amar, estudar, ler, brincar de ser feliz. Mágoa atrai câncer. Frustração atrai pesadelo. Ódio não leva a nada, a não ser a doenças. Saia de si, num livro. No livro vc vai sacar que pessoas (heróis, personagens, bruxos, fadas, anjos, monstros, Peter Pan, Sininho, Gepeto, Cinderela, Mil e Uma Vidas) pessoas que sofreram mil vezes mais do vc, e mesmo assim venceram e foram felizes. Resiliência? E vc aí se achando. Perca-se nas páginas de um livro. Seja tb sua vida-livro com um final feliz que vc escreveu apesar de tudo. Frequente bibliotecas. Ler um livro faz bem pra pele. Seja o seu livro uma praia, uma viagem, uma cabana, não cem anos de solidão. Não gosta de ler? Tem tratamento. Não gosta de estudar? Tem cura. É difícil mas tem. Livros difíceis? Pois é, livros fáceis e vc fica “facinha”, de lograr, de aceitar mentiras, de acreditar em lorotas… já pensou que lugar ao sol é o seu futuro, se vc se esconde atrás de uma máscara, fingindo que foi o que não foi, que é o que não é? Nem ler, nada a ver. Nada a ser. Leia e seja. Um médico não é Deus. Uma igreja certinha não existe, vc não é certinha e nenhuma religião pode adestrar vc, a não ser que vc seja quadrúpede. E depois, lembre-se: a solidão é a melhor amiga da alma. E um livraço é a melhor companhia. Poesia é bom pra memória, pro espírito, para neuras, remorsos, sequelas. Deus ama quem lê com alegria. Na casa do Pai há muitas bibliotecas… Já pensou que demais? Seja um bom livro, seu super-herói preferido. Leia e apareça. Quem não lê, sabendo ler, é um inocente inútil, um ignorante perfeitinho para um sistema que banaliza o amor, a caridade, a evolução. Leia e evolua. Ou fique aí parado, esperando a banda passar, e vc atrás da banda de falsos contentes desafinando a sua vida em escala errada. Lucros, perdas. Quem lê vale mais. Vale quando seja. Conteúdo. As aparências deformam o caráter. Quer escolher alguém para ser feliz, seja feliz antes. Se ele tem mais livros do que beleza, ame-o, e deixe-o amar. Cresça e apareça ao lado dele. Se ela tem mais cursos e diplomas do que sapatos e caixas de maquiagens, e adora trabalhar e estudar, vai ser a musa ideal, a esposa ideal, vc vai crescer com ela, ser feliz, ficar rico com as mãos limpas, nas alegrias e nas vitórias. É sim, possível ser feliz sozinho. Se vc está em boa companhia, quando está sozinha com um livro na mão, vc tem o que oferecer a um outro ser. Um celular sem crédito, e vc pouco ligando. Vai reler aquele clássico famoso. Vai se reaprender. Vc vê as fotos de vc menininha, de sua mãe gestora, de sua vida evolutiva, e sempre está com um jornal, uma revista, um livro na mão, ou desenhando, lendo, estudando, e olha-se: venceu por seus próprios méritos de muitas leituras, estudos, cursos, diplomas, conquistas, vitórias. Sua vida um final feliz. Quem não lê muito não se ama nada. Alme-se: LEIA. Quem não estuda sempre vai morrer sem ter uma vitória de garra para contar como referência. Quem quer um livro de um mané, um asnoia, um zé ninguém, se a mesmice e a verdadeira autoajuda é a ajuda mutua, o esforço, o sacrifício, o além de si, a determinação, a transparência, e assim então uma verdadeira alta ajuda. Que exemplo vc é para sua família, ou vc é mais um, ou para vc tanto faz como tanto fez, não significa nada sendo o que é?

Leia a vida-livro do autor. Leia a história do personagem admirável. Vc nasceu, seu nome foi escrito no livro da vida. Vc casou, ganhou uma pg de livro de oficio, num cartório. Vc lê a bula que é a pg de um remédio, a química, a biologia, a homeopatia. O laudo foi negativo e está ali mais uma página de sua vida limpa. Seus diplomas, suas escrituras. Quando vc morrer, escreverão seu nome num livro. Aqui jaz ou “aqui jazz”? Dance conforme a música do livro. Ora, se tudo se enlivra de vc, e vc lendo se livra de tanta coisa ruim, quando morrer, seu nome sendo escrito no livro do céu, pq vc não lê então, se tudo retrata vc? Quando Deus escreveu vc, Ele estava virando pra lua, ou vc aceita a escuridão da ignorância e da rotina, e tem um medíocre repertorio de palavras, escreve errado, querendo palpitar sem saber… Leia e aumente o volume do seu cérebro… Morrer sem ter lido os mil melhores livros de todo mundo, vai fazer de vc uma ameba com godê. Bonitinha mas tapada. Grã-fina mas ruim de diálogo. Saber ler mas não lê, acaba uma ignorante política daquelas. Já pensou, seu cérebro um receptáculo de tudo que faz de vc ser pequena, a fofoca, a vizinha topeira, a amiga burralda, a parente analfabeta, quando estudar vai abrir sua concepção, e ler vai fazer vc medir informações, escrever melhor, saber usar o verbo viver em toda esplendência?

Biblioterapia. Livroterapia. Eis a fórmula secreta. Dieta da lua? Dieta da USP. Cursos, diplomas. Rato de sebos. Dieta do Livro. Leia e emagreça. Pedale seu livro. Plante um livro em seu canteiro neural. Resuma o livro, copie o livro, critique, escreva ao autor, à editora. Indique o livro. Coma o livro, beba o livro, respire os livros. Empreste o livro. Seja freguesa da biblioteca ou da livraria de seu bairro. Gaste dez por cento do seu salário com livros, cds, dvds. Tenha a sua própria coleção na biblioteca em casa, feito um pedaço de um infinito particular. Sentiu firmeza? O céu pode ser uma grande biblioteca do Criador, um paraíso de livros. Vai repetir de vida, ou vai repetir de livros? Onde a sua vida-livro se encaixa da biblioteca da natureza? Ou vc é um caso perdido, um pé no sacro, um final infeliz, uma pobre e analfa e reaça alma perdida a vagar nessa dimensão cósmica numa travessia da Via Láctea? Olhe para o céu que há no livro, e se livre do inferno que as suas escolhas obscuras fizeram de vc uma refém do ostracismo.

Será que o seu login depois da morte é o nome de um livro clássico, e a senha, no portal do infinito, é um guardião alado dizendo: -Evolução ou retrocesso? -Quantos livros vc leu, camarada? Se leu pouco, voltará dependurada num cipó de Darwin, com seu DNA corrompido, a placa mãe retardada. Se leu muito, um lugar melhor será o seu futuro e dirão, que vc mesmo teve um belo romance de vida, que escreveu com seu suor, suas lágrimas, seu sangue, e também, claro, com seus cursos, diplomas, e livros que inspirou, leu escreveu e foi de alguma forma capa e espada tb. Mas não acredite em verdades perfeitas, nem tenha aquela velha opinião formada sobre tudo. Critique tudo. Com sabedoria curricular e cultural. Mas com base. Nunca questione escrevendo errado ou sem pesquisar antes. O selfie pode esperar. Vidinha medíocre, paz burra. Só idiotas não têm inimigos. É mais cômodo e seguro ser um mané, uma perua, né não? Ser burro não dói nada. Aprender dignifica a fé, a obra, o ser. O que vc pensa, cisma, pensa, exprime, escreve, diz mais de vc do que vc acha que diz ou é. Não compartilhe bobices, fascismos, neuras sublimadas, resignações de panelas. Leia-se e seja-se. Fuja num mapa do livro. Solte as amarras. Use a imaginação. No reino da fantasia há muitas jornadas espirituais. Pague pra ver, pra ler, pra ser, crescer e aparecer… Quem lê vale mais. Quem lê poesia vale muito mais. Ler e criar, é só começar. Ler e curar-se, é só continuar a ler muito e bem…

“É comum confundir Biblioterapia com ler livros de autoajuda. Alguns títulos de autoajuda são úteis e podem ser aplicados junto com o tratamento”, diz Rodrigo Leite, (Coordenador do Ambulatório Geral do Instituto de Psiquiatria da USP, a Biblioterapia)

Ou vc quer ser uma merreca de um cerebrozinho de carruagem de abóbora selvagem, com inúteis e bobos mil tons de cinza de anões de jardins cheio de coliformes fecais de abutres? Vire a página. Seja freguês de uma estante cheia. Mande ver. Mande LER. A melhor pedagogia é o exemplo. A maior e melhor lição é não ser tapado e nem metido a cult ou artista de embustes, sem ser sequer ser um eterno aprendiz da alma humana. Livro ensina. Aprenda.

Quando eu morrer eu quero ser LIVRO.

-0-

PS: Livros viram ‘remédios’ para paciente psiquiátrico. Fobias, ansiedade, bulimia e depressão podem ser tratadas através da leitura. Histórias são indicadas pelos médicos. Ler pode ser um importante aliado em tratamentos psiquiátricos. É o que apostam especialistas da Biblioterapia. No Reino Unido o método ganhou apoio do governo por meio de parceria entre médicos e bibliotecas públicas, que transformaram-se em verdadeiras farmácias culturais: os livros são ‘prescritos’ em receitas e emprestados ao paciente. Jornal O Dia – Inglaterra.

Escreveu:

Silas Corrêa Leite, Livre pensador humanista, blogueiro e ciberpoeta premiado.

Autor de vários livros, premiado em diversos concursos, constando mais de 800 links de sites e em mais de cem antologias literárias de renome em verso e prosa, até no exterior. Contatos para palestras, congressos, debates, entrevistas, críticas, torpedos, etc. E-mail:

poesilas@terra.com.br

Último Romance no Site da Folha de São Paulo:

http://livraria.folha.com.br/ebooks/literatura-ficcao/gute-gute-ebook-1316008.html

Livros a venda no site: WWW.livrariacultura.com.br

OU no: WWW.clubedeautores.com.br

“FilosoSilas”

Cem “Bijutelíricas” do Livre Pensador Humanista Silas Corrêa Leite

(Perguntamentos, Desesespelhos, Desabandonos e Alucilâminas)

Almanaque de Cem Doses de LactobaSilas e suas “siladas”

………………………………………………………………..

“Adquirimos sabedoria? Eis um belo paradoxo,

já que a sabedoria é fruto das perdas

e não das aquisições.” (Alma Welt)

01.Quem tem uma só breve e inócua razão para querer continuar existindo, é doido de parafuso solto e da pá virada e da pá varrida…

02.O destino da existência do chamado “humanus” no telúrico inferno humanizado é a nossa cruz adâmica ancestral e ainda corrompida

03.A natureza nos protege de nós, porque quando nos sentimos superiores por ela somos derrubados como árvores podres

04.Só os imbecis são felizes

05.Nossa infância é o nosso maior tesouro

06.O silêncio é a maior prece de uma ser “almando” uma outra superior alma na placa mãe sideral

07.Nosso fim revelará nossa honra ou nosso horror no verdor da existencialização

08.O homem que se proclama bom, não é realista, é um mero burro de carga amoral

09.Algumas pessoas com peçonhas conversam só para fugirem de ser o que pensam que são

10.Não podemos amar o outrem, se não toleramos nosso próprio reduto intimo, sendo perversos e egoístas na nossa mais secreta interioridade recalcada

11.Só quem ergueu sozinho, com luta, fibra, sangue, choro e ranger de dentes, seu futuro limpo, é que tem direito a arguir alguma coisa de um lado ou de outro

12.Amigos mesmo cabem na palma da mão, mas sobram dedos na hora de contá-los no frigir dos problemas e enfrentamentos

13.Pelos nossos inimigos nos conhecerão e nos reconhecerão em honra, glória e respeito

14.O tal do bendito sucesso é só uma mentira de ocasião

15.O homem é o estrume no esgoto da terra, o aterro depositado do espaço, onde estão depositados todos os vermes

16.Quem muito de si mesmo fala, um jumento presencial embala

17.Virtutes, acertos e erros, afinam prudências ressentidas

18.O tal dos reinos dos céus começa a ser assentado depois de uma nossa particular e infinito mea-culpa

19.O homem é antes de tudo, acima e sobre todas as coisas, apenas um mero eco à beira do abismo

20.A melhor arma contra um inimigo é um currículo espetacular, portentoso, excepcional, fora de série

21.Os nossos maiores êxitos são desaforos obscuros, oportunismos sórdidos de mal- feitos, aproveitamentos escusos de ocasião, como indecências que resignamos e contamos palha com um papo furado que fura o olho da verdadeira verdade em nome de uma falsa meritocracia de ocasião, do rastilho do ocaso, do cardume do acaso e de um nefasto percurso maquiavélico…

22.Ser você mesmo faz parte de seu verdadeiro caráter. As vezes dói a portabilidade de se ser, mas, mesmo doendo, não queira parecer ser o que não é, nem pensando que pensa, pois fingir mostra a escurez da falta de escrúpulos assentando tijolos de vaidades customizadas com chiquezas espúrias de pústulas

23.Na verdade, o melhor do sumo de nós mesmos, aprendemos sozinhos e em enfrentações com sequelas de dor em neuras, mas nos cabendo em nós, desfrutamos o fortalecimento depois de erros, acertos, apreendências

24.Nossas opiniões só fazem bem para a nossa pose

25.Feridos venceremos

26.Toda razão perfeita e acabada de quem veio do pó começa a esvair-se quando vamos ao banheiro soltar um barro

27.O futuro sempre começa a ser construído bem lá atrás, com nossas ações contínuas de perdas de lastros setoriais ou customizados de clã e meio. Só assim nos livramos de nós e de ranços, e ergueremos nossa própria sombra, muro e pódio

28.As pedras rolam em artes. Que pedra polida queremos ser, parados, em mesmices e achismos, criando limo e húmus vegetativo?

29.A melhor lição de vida é um exemplo limpo de vitória em campo minado

30.Toda reclamação deveria vir precedida de uma bela ideia de conserto, solução ou refinamento para uma purgação evolutiva

31.No amor sempre existe um pouco de enlevo circunstancial, de devaneio residual, e de submissão unilateral

32.O dia de aprender voar, não é o dia de se atirar no abismo com paraquedas de ego doentio superestimado

33.Quem vê muitos monstros habita o surto circuito do miolo mole de um deles feito espectro

34.Se falamos de verdades olhando no espelho, fugimos do medo-rabo de nós mesmos

35.O ser humano mais do que um acidente criacional, é um embuste e uma mentira da conspiradora natureza corporativa

36.O dia que não lemos alguma coisa, não existimos

37.A alma tem sabedoria toda peculiar e inerente, que até a lucidez desconhece

38.Algumas pessoas com peçonhas deveriam vir ao mundo com tarja preta na fronte

39.Extremismos são impotências sublimadas

40.A solidão do homem no espaço é o cadáver insepulto de si mesmo que ele leva no lombo de sua mediocridade

41.Amar é despertencer-se

42.A meritocracia é uma enganação assistida, um erro

43.Todos os grandes pensamentos e as grandes ideias, foram produzidas na intimidade privada de um banheiro, como contrapartida para um descarregamento de intimo transido.

44.Todos os cadáveres deveriam ser congelados, desde o surgimento e evolução do homem na tábua de carne da terra, porque no futural vai faltar alimento e nutrientes básicos

45.Só tragédias curam paixões impossíveis

46.Quem acha alguns idiotas, deve estar procurando sustentação e companhia para sua tacanha mediocridade

47.Algumas pessoas sabem ser confidentes, e sacam o que deve ser isso, não tentam ser extintores de incêndios

48.Pessoa que repete que lê, como papagaios de piratas, é entidade vazia de si mesma

49.Estar só é um colírio, se você sozinho consegue ser um vencedor limpo em teoria e prática, você merece companhia qualificada para se reproduzir, não fazer parte do sistema

50.O humano que é um sofredor bem resolvido, tem em sua sapiência espiritual de recolhes ascendentes um ótimo butim

51.Gosto de brigões. Não gosto de cagões. Nessa vida é mesmo assim: ou você é um Nerd, ou você é um merd.

52.Quem não gosta de animais, não se enxerga.

53.Querer tentar ser sábio, significa porões, tormentas, sequelas descompensadas, não vitória boba com mãos sujas

54.O cérebro faz parte do kit básico da evolução necessária. Todos deveriam usar um

55.Quem não ergue, não constrói seu dia, cava seu poço de mediocridade. Deveria tentar arte como libertação. Quem não trabalha, não estuda e não lê, é parte da escoria tangida pela mediocridade.

56.Pessoas confusas, inseguras e fracas, fazem mal pra cadeia residual da civilização. Deveria haver um mosteiro para ateus, cegos e frustrados?

57.O homem que nunca deixou de ser criança, é que nesse conhecimento adquirido potencializa o DNA quântico do evoluído humanus em si

58.Ninguém é louco sozinho. Deus é o maior louco e solitário do universo multipangalaxial, e ergueu todo esse Big Bang que virou orquestral Big Band espacial, já que do jazz nasce a luz

59.Opinião é como fralda geriátrica: cada um preenche seu vazio dogmático com o que acha que fez de si e na verdade não fez

60.Para os animais, o homem é um deus. Para Deus, o homem para chegar a ser animal ainda tem que sair do lugar que está, pois está no átomo sem cachorro

61.Casar é humor a dois. Ou é tédio, rotina, apropriação, iniquidade, dezelo intimo e parcimônia com a infelicidade conjugal reciproca

62.Todo homem é um ignorante na sua essência

63.O melhor pensador é aquele que reflete com realismo sobra a sua sentição e o seu próprio lado sentidor enquanto neura, fuga, tentativa de achismo

64.Poeta que não lê o defeito de si, não sabe o que de per-si é, não sabe o que é uma coisa ou outra.

65.A vida é rotina cruel, tédio. Viver é plágio. Morrer é pós pago?

O homem é um câncer historial.
67.Nossos maiores bens são nossas estadias de severos estudos

68.Quem não sabe se doar, não faz parte de um todo sagracial ético-plural comunitário

69.A ilusão consentida e alumbrada alimenta e amola a faca cega da esperança

70.A arte tende a ser a libertação do ser de si

71.Somos todos meras cópias. Alguns, nem isso

72.Quem não ama seus pais, e quer julgá-los sem estar a altura, nunca será nada na vida e na morte também

73.Nas profundezas da alma acesa em lume neutro, estão todos os tipos de tições de monstros que afinal nos restamos

74.Viver intensamente é tribunal, alga, palco, iluminura e refinamento com o qual cerzimos a pele arisca do dia

75.Algumas almas bobamente boas, habitam corpos parasitas

76.Odiar deveria ser proibido. O ódio enfeza o odiador, e só faz bem pras fezes.

A vida inteirinha tentamos ser o tempo todo o mais distante e diferente possível do que realmente e na verdade somos
78.Numa guerra todos perdem. Até os vencedores

79.Um mestre que não tem um aluno muito melhor do que ele, não foi um bom mestre

80.O mundo da imaginação coletiva é que permite uma realidade substituta, com todas as suas lonjuras, pompas de podres poderes e sofisticadas mentiras com significados libertários pífios, ignóbeis e rasos

81.Perdoar é divino. Tirar lições de errações é que fortificam nossas muletas de prosseguimentos

82.A esperança é a inteligência da vida

83.O que nos mata, nos leva consigo

84.Quem mal vê, mal ouve, mal sabe, mal capta. Aprender é sempre um curtume de aproximação com o diferenciado de nós

85.Todas as vezes que levantamos a voz, perdemos o conteúdo, a razão, a ética

86.Todo idealismo é chulo, farpa, nonsense, um verdadeiro chute na sombra

87.Todo caminho é corrente, vazão e hangar

88.Toda certeza é esgoto de esgotamento neural martirizado nas aparências

89.Não vivemos por nós, mas pela manada com grife

90.Nossos erros de escolhas e situações, nos acompanharão por toda a corda esticada da eternidade

91.Fórmula de felicidade: olaria, silo, salina, embarcadouro, biblioteca

92.Ser feliz é fazer alguém feliz

93.A grandeza da vida é a belezura de ser simples

94.A vida é muito curta para ficarmos preenchendo questionários de renúncias e de perguntamentos

95.Nossa força pode ser nosso algoz

96.Nossos pecados são nossos professores

97.Quem remói muito um osso duro de ruir, é animal de sua própria insignificância

98.O amor é eixo e farol. Quem não se desarma, não ama

99.Somos o nosso próprio capital. As ações que somamos é o árduo trabalho, muitos estudos, leituras a todo e pleno vapor, e assim erguemos um castelo com a cara e coragem de nosso encantário vivencial, feito documento de presença, de passagem e de estadia nesse plano dimensional de uma dobra do espaço

Tudo o que você fizer no calado da viagem e no dizer nas honras, feito desaceleração de partículas, será usado a favor de você, ou contra você, em sua acusação, naquele bendito final feliz em que todos morrem, e todas as páginas do livro aberto de sua vida regurgitarão além de sua retina como um ácido nucleico da barriga dos céus gerando uma evolução, ou uma volta ao estado primevo dos perdedores e infelizes, para uma nova tentativa…

Silas Corrêa Leite – Texto da Série Assim Falou Silas e suas Culatras

Íntimo Blues, poemas

C O I S A S
As coisas existem antes de nós
Apenas as continuamos
Ou não
O poeta mesmo com sua irrazão
É elo de continuação

As coisas sobrevivem depois de nós

  • Além da razão –
    As poesias mesmo
    São eternas como centeio, trigo, aveia
    Grãos

As coisas existem dentro de nós
Antes mesmo da concepção
Poemas nada mais são
Que íntimos aleijados
Querendo ser purificados
Nos escombros da perpetuação

M U L H E R
Você não sabe o que é
Dormir no escuro
O rastejar do verme
No monturo
E a mulher grávida mentindo
Dizendo : – Eu juro !

Você não sabe o que é
Dormir no claro
O respirar do objeto
No íntimo faro
E a mulher tossindo verde
Dizendo : – É ácaro !

Você não sabe o que é
Dormir sentindo
O controlar do medo
De morrer dormindo
E a Mulher – Noite sorrindo
Dizendo : – Benvindo !

O A M O R
O amor é um parafuso
Que precisa preencher espaço
Ir além do buraco
E nele pregar a peça

O amor é um parafuso
Enferrujado, em desuso
E por mais que o meio meça
Falta sempre um cavaco

O amor é um parafuso
Pregado segura a arte
Ele vê de qualquer parte
O dogma, o sândalo; o obtuso

O amor é um parafuso
Cuja a fenda é o apertar-se
Por isso ao amar – ao dar-se
Esqueça o cobrar. Use-o.

O P O E T A E O M A R
O mar
Carece de rochedo
Para se arrebentar
Um Poeta não
Carece de enfrentação

O mar
Carece de naufrágio
Para se aprofundar
Um Poeta não
Carece de navegação

O mar
Carece de oriente
Para se encontrar
Um Poeta não
Carece de arrebentação

R E V E L A Ç Ã O
Todo homem contempla seu Deus quando cria
Depois volta-se para a noite vazia
De si mesmo, coitado

E chora constrangido e arrasado
Por não terem entendido
O que ele supunha ter revelado
Na sua mais estranha e íntima poesia

Banzos
Esses meus banzos tropicais sem nexo
Escritos com sangue, como espirituais
A volúpia dos olhos com chuvas neles
E a sensação de estar sendo roubado

Esses meus banzos esquisitos como eu
A técnica da linguagem disforme
Os estranhos sintomas que me visitam
E o medo da faca cega da ilusão

Esses meus banzos com seus curtumes
Os pertencimentos que se desfazem
A voz atrás do espelho, o circo
E a corda bamba da decomposição

Esses meus banzos como canteiros
A minha expectativa de cárcere
O som que soa antes de existir
E as carpideiras do meu ser sem Ser

LIVRO DE MÁGOAS
Livro de Mágoas.
Ainda vou escrever um.
Quase um diário.
Desabafos, contradições, teatro
E uma procura por mim
Nos porões de trastes velhos de mim

Livro de Mágoas.
Carteiros, anjos e carpideiras.
Mil sofreguidões.
Alma contraditória e doente
Torturada por um misticismo
Cercado de dragões e arquétipos íntimos.

Livro de Mágoas.
Exercício de solidão, prurido.
Inventários e partilhas.
Cárcere, genuflexório, inconsciente
O drama de não se sentir.
Cavalos selvagens mortos a machadadas.

ESTRELA VAGA (CORAÇÃO)
Se queres a Estrela Vaga
E tens um coração, traga
A tua cimitarra, a tua adaga
E o corte profundo da palavra
Origem

BOEMIA PELA PRÓPRIA NATUREZA
(Quase haikai)
O louva-a-Deus
Cheira
Cerveja Preta

CÁOS URBANO
Fechem as portas
Abram os olhos
Entreguem pra Deus
Os seus reclamos

Fechem os livros
Abram as mentes
Tudo está pronto
Para os estágios

Fechem as grades
Sigam as placas
Usem os domínios
Para os escapes

Fechem os filhos
Tranquem os butins
É chegada a hora
O diabo está solto

……………………..

(Fechem os olhos
E atirem primeiro)

ÓTICA POSTUMA
(Poemeto quase haikai)
Ri-me
De mim
Quando vi-me
Verme

ANUNCIAÇÃO AURORAL
Para Jorge Luís Borges
Dentro da Avícola fechada
De madrugada
Um galo canta a morte anunciada

ANJONAUTAS
Os anjos, coitados
Quando tomam cervejas
Sentem-se apaixonados
(Os poetas não
São apaixonados de criação)

HORA DO ANGELUS
SEIS HORAS TROPICAIS
POUCAS NUVENS ESPARSAS
NO CUME DOS MANGUEIRAIS
AVE-MARIA CHEIA DE GARÇAS

TO BE
Ser poeta é a minha maneira
De chorar escondido
Nessa existência estrangeira
Que me tenho havido

HABEMUS FLAGRAMENTHUS
Ela é tão certinha
Mas tão certinha
Que até parece coisa
De Eva Daninha

ANOS 60


Fugi do colégio interno
Fugi do quartel inferno
Fugi da ditadura de gravata, farda, toga e terno
E assim, poeta moderno
Me descobri
Ser Humano com pedigree

O AMOR SE INSTALA
Silenciosamente como um ácaro
O amor se instala
E logo faz-se pleno e raro
Como cicatriz de bala

E abre em sensoriais, o faro
De fragrâncias em gala
(E como, assim, não tocá-lo
Desde quando se instaura?)

O amor é assim, cavalgá-lo
É no olhar dizer a aura
Fazer o peito cantar de galo
Como loucura – que não sara

………………………………………..

Silenciosamente e assim tão caro
O amor pede para amá-lo
E a paixão torna centauro
O ser louco. Por ser fauno.

ACERVO LASTRO
Para Carlos Nejar
Teus seres de orquestração terreal
Viventes – com árvores nas mãos
Tua arquitetura de gracezas
Teus anjos barrocos – em moendas
de sulcros sacros

Vozes e gestos; sais – iluminuras
Cânticos & betumes – bíblicos
Tuas palavras – campos de centeios
Em orquídeas velhas, tamarindos
em quartzo-róseo

Descreveste as batalhas inglórias
(Personificações de calvários)
Amaste os seres como pó, íntimos
Em porcelanas de ritos em transes
(ninhais & textamentos)

Teu imaginário estúdio, liturgia
Graças te damos pelos manuscritos
Anjo Nejar, de próprio punho, ícaro
De própria asa-pandora, lírica
acervo e lavra: butim

LUZES DA RIBALTA
Desconfio
Viver não é atravessar a ponte
Mas se atirar no rio

HAVÊNCIA
0l
nunca me deixaram ser nada
que nunca quis ser

então eu me existi no escrever
cada mar, horizonte e ilha
02
depois da poesia decantada
em que me fiz crer

então me chamaram pra dizer
prelúdios, plantações e ícones
03
nunca fui nada – nada sou
não me ensinaram o aprender?

minha poesia é minha estada
nessa havência de inquerer

……………………………………………..

quem quiser, assim, me conhecer
basta esquecer-me (não sou nada)

e então, me Ler!…

INFINITUDES
Eu moraria em tendas
Como um escorpião

Mas me deram um arranha-céu
Na mão

Eu moraria em desertos
Como uma religião

Mas me deram endereços fantasmas
No chão

Eu moraria em galáxias
Ou numa outra dimensão

Mas me ensinaram a fuga na poesia
E EU APRENDI A LIÇÃO

NARCISO
toma conta de mim
faz meu chá de arroz

depois – muito além de depois
despe-me como se fosse ver-me

toma conta de mim
faz-me um afago no ego

e deixa que eu me aceite assim
estrangeiro em teu ver disforme

toma conta de mim
faz-me essa caridade

aceita-me como sou, como vim
um zero além do polimento da metáfora

toma conta de mim
lava minhas feridas íntimas

veste-me de barro e alecrim
para que eu mereça a câmara de vestígios

toma conta de mim
e ama-me como sou
simples, feio, triste e pobre assim

O HOMEM-CAMINHO
O homem sempre pode ser
Um homem e um caminho
E então esse homem-caminho
É verdadeiro em seu saber
Pois respira pelos seus
calcanhares
Peregrino a querer
Não só o amor
Ou a aventura filosofal dos ares
Mas até o sofrer
Por isso o Homem-Caminho
É verdadeiro
No seu ser-estar-permanecer
(Mesmo sozinho)
Como se de si mesmo estrangeiro
Mas infinitamente a crescer

PARAFRASEANDO MAIAKOVSKI
Para Carlos Nejar
Que o meu bom Deus me proteja
Mas não tem remédio
Prefiro morrer de poesia e Cerveja
Mas não de tédio.

ORQUIDÁRIO
Para Leila Chueri
A lição da orquídea
É pertencer-se à matriz
Que dela extirpa a cor
Como quem se mutila

A oração da orquídea
Não cabe no Ser raíz
Que dela explende a cor
Como quem se realiza

A lição da orquídea
É ser flor – não feliz
Por isso fenece logo
Depois que se eterniza

DUELO
Pra fazer poesia pura
Só preciso de fermento
É quando o íntimo se cura
O Ser de si lá dentro

Ajuda cerveja escura
Na gaiola de cimento
(Pra fazer Poesia Pura
Silêncio tem documento)

Animal
Gordo como um porco
Bêbado igual um gambá
Torpe como um corvo
Feio como tamanduá

Triste como um peixe
Sujo como um elefante
Pobre como uma hiena
Pétreo como rinoceronte

Simples como um texugo
Roto como um mulo
Amargo como um sapo
Finito como um chacal chulo

No entanto ele vegeta
Muito mais animal
Bode metido a poeta
Blues etílicos tal e qual

Cássia Eller
In Memoriam
a gilete cega descansa
agora, sobre o espelho

não ha vazios de restos
nem olhos ávidos de tremor

dorme a louca varrida
porcelana xadrez no íntimo

não querendo ser, foi
fêmea em si bem fatale

homem-menina, berrou-se
em canto de cisne louco

a bicha-grilo, Eller, ia
tocando pulsos em bemóis

caída no chão, flor-
de-ir-embora, Voa, Cássia!

Paquidermes
Somos tolos paquidermes
Com velas enfurnadas
Esperando ventos caseiros
Para uma aventura bêbada
Ao redor do quarteirão

Somos tolos paquidermes
Com trevas nas finas mãos
Procurando calma pra se coçar
Embaixo de uma bananeira
Que já deu goiaba em lata

Somos tolos paquidermes
Com lâmpadas de petróleo
Coçando berebas imaginarias
Tirando tatus do nariz
Sonhando Ícaros e Crusoés

Estação Sorocaba de Itararé
Fui te esperar
Na estação
Você veio. O Trem não

DOS POMBOS
Para a Memória de Vlado, Santos Dias, Henfil e Angélica
Posso escutar o sussurro das grandes estátuas de marechais
Reclamando da titica de pombos alvissareiros que, por décadas
Pesteiam o seu mármore mais oliva – de vilezas históricas
E tenho muito pena
Da bosta
Dos pombos

Estatuas de ditadores, generais, de outros vermes e estrupícios
Todos ganhando o verde húmus das fezes caindo do céu
Como a justiça divina – em ícones da descarga dos pombos
E tenho muita pena
Da bosta
Dos Pombos

Ilíada
Com Deus me levando
Com Deus me deito
-Crime perfeito

FORNOS CARVOEIROS
Os fornos carvoeiros
Têm os seus guris pretos
Com os olhos fagueiros
Em toscos comequietos
Sempre uns serviceiros
Se tornando espectros
Os gabirus rueiros
E os seus tristes gestos

Os piás clandestinos
Dos fornos carvoeiros
Têm nos frágeis meninos
Coitados, de trigueiros
Humildes com destinos
Em cruzes sem luzeiros
E são como caprinos
Nesses vis pardieiros

Os clandestinos fornos
Têm os moleques pretos
Na pele os contornos
Com fuligem em espectros
De exploradores donos
Morrem magros, infectos
Assim, em abandonos
Nem terão filhos ou netos

Meninos carvoeiros
Que sustentam seus pais
Pobretões e cordeiros
Desses guetos gerais
Passam dias inteiros
Transportando, em pás
Tantos carvões vermelhos
Que a morte lhes traz

…………………………

Os patrões vivaldinos
Desses escravos pretos
São de grandes domínios
E têm lucros certos
(Os curumins, franzinos
Quais gravetos – espectros
NOS FORNOS CLANTESTINOS
SIMPLESMENTE SECAM)

OS DEZ MANDAMENTOS SÃO TREZE?
“Nem tudo pode ser perfeito”
(Adágio Popular)
Os Ensinamentos presenciais estão nesse kit básico de sobrevivência:
01)-Ama-te à ti mesmo como ao próximo. (Socialismo de Resultados?)
02)-Ama teu par e tua mão. (As solidões são sábias.)
03)-Cuidado com o drops no escurinho do cinema.
04)-Não fazer estátuas em vão. (Amai-vos uns aos outros
Sem lenço, sem documento.)
05)-Se o sonho for impossível, diga um verso e vá embora pra Pasárgada
06)-Um véu de tule xadrez com tubinho preto cai bem aos sábados santos.
07)-Cair em tentação é não estar podre. (O coração continua.)
08)-Não terás um segundo Deus além do móney…
09)-Uns são, uns não, uns hão, uns vão (uns Vã Gogh)
E ainda existem as ostras.
10)-Tudo pela Poesia. (No Novo Milênio os chips serão mosaicos humanistas
de
Pertencimentoss & Ninhais) – Ai de ti Ignorante Político!
11)-Habemus Esoterismos Tantãs – (Do Jazz nasce a luz?)
Há bares que vêm pra bem – É melhor morrer de cerveja do que de
tédio
12)-Pátrias Nada ! Globalização do neo-escravismo liberal tercerizado
(Deus Puna a América)
13)-Tudo por Amor! (Os loucos herdarão a terra)

Ciranda Globalizada
Batatinha quando nasce
Vira fritas no McDonalds

Caipiríssima
Com açúcar furtado
E um belo litro de vodka na mão
O poeta desesperado
Grita: -Meu reino por um limão!

ALÉM LUZ DE…
Conhecer
É lembrar
Viver
É adquirir
Morrer
É fechar mais um arquivo

Aprender
É buscar
Amar
É produzir
Viver
É montar mais um arquivo

Viver
É ser-se
Voar
É estar luz
(Morrer
É levar conhecimento para a luz)

T A M A R I N D O
Se eu escolhesse ser um fruto
Seria Tamarindo
Não conhecendo esse fruto
(Tez, estética, sabor, gume, gula)
Gostaria de sê-lo e, às vezes
Sou-o

Sou um Tamarindo que não é
E não o sendo
Pertenço-me, fruto, nessa tez
Estética, Sabor, Gume, Gula, Néctar
E açúcar de mil encantários
Sabor de

O que é exatamente Ser Tamarindo?
Não sei se sei
Mas querendo ser e às vezes me sendo
(Maduro, doce, flor, fruto, outono)
Sinto-me pomar, bosque e esperança
Sementeiro

E sei que um dia ainda serei um tamarindeiro!

Rã e Nudez
Já fui pobre como um imã
Atraí depositários
Não fiquei rico, procuro
Ilhas de encantários

Já fui pobre como uma rã
Procurei, sedentário
Quem me desse um hangar
Que não me fosse calvário

Já fui só como pura lã
No tear do imaginário
Mas vesti-me de nudez
Com um sentimento vário

Hoje sou assim tristinho
Velho lobo solitário
Escrevendo meus lamentos
Blues extraordinários

DANÇA COM LOBOS
Estive em todas as épocas
Mas não me tiraram para dançar
Assim voltei para caçar
Os predadores

Estive em todos os tribunais
E me crucificaram para pagar
Assim voltei para julgar
Os delatores

Estive em todos os céus
E me destruíram para anular
Assim voltei para afundar
Os navegadores

………………………………

Estive em todas as mortes
E me condenaram a Voltar

ASSIM VOLTEI PARA RECRIAR
TODOS OS HORRORES!

CARA(S)VEL(H)AS – ( MANUSCRITO 2.000)
“Em se plantando, tudo dá…” “…Pátria Amada/Pátria
minha/Pátria nada/Pa-
(Carta de Pero Vaz Caminha) triazinha” – ( Poeta Vinícius de Morais)

01)

Vamos invadir a Terra de Santa Cruz, Brasil
Vamos explorar a Terra de Santa Cruz, Brasil
Vamos colonizar a Terra de Santa Cruz, Brasil
Aquelas grandes árvores raras, belas, tintureiras
Aquelas rubras vergonhas de índias saradinhas
Aqueles exóticos litorais; praias a beira-mar
Aqueles cafundós de Ameríndias Tordesilhas

02)

Vamos deixar nossas civilizadas marcas santas:
Sífilis, Cruzes, Vírus – muitos mestiços bastardos
E depois, ainda, para plantio lucrativo levaremos
Fortes negros seqüestrados do norte da África
Para poderem nos produzir latim, açúcar e ouro
E gerar mulatas, amas-secas – escravas sem alma
Em rituais pagãos, nos becos injustos das senzalas

………………………………………………………………….

……………. Quando voltarmos, vitoriosos à nobre metrópole
Deixaremos milhões de vermelhos selvagens extintos
De castigo, jesuítas, inquisidores, moínhos, pestes
E uma continental, sagrada língua-mãe, ibérica
Até que Poetas trovadores, centenas de anos depois
Lavrem rústicos banzos tropicais, desabafando
Com a nossa caravélica e histórica marca: Lusos!

NAVIOS NEGREIROS
In Memoriam de “…depois dos Navios Negrei-
CASTRO ALVES ros/Outras Correntezas”
(Um Trem Pras
Estrelas-Gilberto
Gil/Cazuza)
NAVIOS NEGREIROS NAVIOS NEGREIROS
DE NOVOS FEITIOS RIQUEZAS IMPUNES
NEM MARES OU RIOS INJUSTAS, IMUNES
-BUEIROS (VEZEIROS)

NAVIOS NEGREIROS NAVIOS NEGREIROS
NESSE PINDORAMA DE ANJOS MESTIÇOS
PAÍS COM SEU DRAMA: COM DONOS POSTIÇOS
MEEIROS ESTRANGEIROS

NAVIOS NEGREIROS NAVIOS NEGREIROS
DE TEMPOS MODERNOS BANDEIRAS INÚTEIS
E TANTOS INFERNOS EXPLORAM (E FÚTEIS
INTEIROS HERDEIROS…)

NAVIOS NEGREIROS NAVIOS NEGREIROS
NAUFRÁGIOS SOCIAIS POBRES TRABALHADORES
CENTENÁRIOS SAIS SALÁRIOS, HORRORES
CRUZEIROS… (PARDIEIROS)

NAVIOS NEGREIROS
BRASIL-QUINHENTOS
VELAS AOS VENTOS
GUERREIROS
……………………………………

NAVIOS NEGREIROS
DE ESCRAVISMOS NOVOS
matam teus povos BRASILEIROS! ***

Relógio de Água
gota a gota
gótico.
gota a gota
ótico.
gota a gota
tico.
gota a gota
ico.
gota a gota
co.
gota a gota
o.
(ping) o.
(ignótico)

Réquiem
Por favor, me perdoem camaradas
Mas hoje eu não vou dizer Bom Dia
Em sinal de protesto, de luto, de sofrência
Hoje eu não vou dizer Sejam Felizes ao casal jurado de arroz e flores
Nem vou dizer “Paz e Amor” aos jovens pequeno burgueses alterados
quimicamente
Nem vou estar inteiramente em mim, hoje.

Por favor, me perdoem irmãos e amigos
Mas hoje eu vou fechar a cara
Vou demonstrar cactos de tantos vícios adquiridos no meu íntimo pisado
E meus olhos segurarão a dor o dia inteiro
Pelo horror da guerra.

Hoje, me perdoem por favor, me perdoem
Eu não vou nem exclamar Meu Deus!
Nem vou falar em seres no curtume espúrio da raça humana
Muito menos me vangloriar de Almas Naus nos encantários de espíritos entre
círios
Pois hoje vou me desamanhecer em uma pedra selvagem
E terei nojo da espécie.

Perdoem, mas hoje vai ser um dia que arrancarei do calendário de minha
havência
Não quero ouvir o pulso púrpura de um átimo dizimal
Nem do tempo confinado à seara do ultrapassado dia
Pois sei do bicho-homem rude à beira do abismo
E do Eu de mim atribulado (no desespelho) por causa da escória no poder.

Sei que hoje eu morri muito mais de dez anos
(Perdoe Poeta Drumond, perdoe o dezelo
Mas meus ombros não suportam o cálice do mundo
Nem quero a cruz de arames de um Carlito puro
Ou o silêncio-albatroz dos jazigos perpétuos em templários com ceifas)
-Eu acreditei no homem e escrevi poemas e banzos ao espírito da vida
Mas os espantalhos das tragédias tiraram a humanidade presencial do eixo de
justiça e convivência entre contrários
E as esperanças estão perdidas em gumes…

Perdão, o sonho de Lennon e Gandhi acabou
Ogivas voam sobre paisanos – crianças de olhos doentes e casebres desérticos
entre montanhas
Num areal sem fim, entre carcaças com cimitarras e cabras cegas
A América Rica e poderosa regozija e tenta matar o nada
E o meu medo e a minha angústia se juntam à uma vergonha sensorial, tristice
Num pertencimento temporão que eu faço prece laica de desatino e horror.

Perdoem meus filhos, anjonautas, árvores, rios, monjolos, manjedouras,
ninhais, baladas de incêndios, papoulas e magnólias
Hoje eu nem existi, nunca me fui hoje
Apenas meus olhos envergonhados e umedecidos vêem
O que o atribulado coração ressente
E minhas rupestres mãos escrevem essas garatujas
Como sideral homem das cavernas em buracos negros do espaço
Quando meu despojo de ser quase antena da época
Feito mambembe Rimbaud pós-moderno
Pede paz, clama paz, louva a paz, e não há paz.

………………………………………………………………….

….. O ódio venceu, viva o ódio!

De alguma forma, com certeza, estamos mortos para sempre
De novo um dantesco espetáculo de guerra com lucros, posses e retaliações de
dogmas com fanatismos

(O Sétimo Selo do anjo apocalíptico de São João
É um abutre com saga de hiena e mísseis com estrelas mórbidas.)
Ave World Trade Center, totem brucutu de acúmulo de riquezas injustas e
amorais lucros exploradores
Os que também vão tombar te saúdam na memória

………………………………………………………………….

….. (Do alto das carroças de tantos séculos eternais
Os Visitadores de dentro da Zona Proibida
Priorizam o Plano B para a evacuação dos espíritos sem máculas
Com códigos legados em genéticas de urânio.)

07.10.2001

POEMAS & POESIAS
Para a poeta Elisa Barreto
Não discuto o sexo dos poemas
nem a vacância de mensagens
muito menos dicções ou mitologias
eles se bastam com arestas
multiplicando zeros e infinitos

não discuto a vertente das poesias
que de si mesmas são distintas
o ritual, a consciência, o melódico
tudo isso são cincerros e egos
questionários, renúncias, pertencimentos

não discuto o simbolismo dos poemas
que por si só podem ter ícones
não quero rótulos, escolas, sachês
e sim rupturas com a sintaxe
técnicas de aproximação, mixórdias

não discuto a lírica das poesias
nem códigos, modismos, planos
quero repertórios de niilismos
e o plano da existência táctil
como réptil com asas, mimetismo

não discuto a lógica dos poemas
quero pluralidades de pedras
o neobarroco, os vetores chaves
são enguias sistêmicas e fazem
do poeta um cacto de bruxo

não quero a vanguarda das poesias
mas elas em si mesmas cibalenas
núcleos, encantários e enzimas
safra de paradoxos críticos
técnica de vernizes diversos

não discuto a poesia no poema
sou um clandestino com lúpus
a lepra de ser-me – sentença
angústia-vívere; roca & singer
baladas de incêndios, odes instintais.

Intimidades
A sua voz pertence-me.
Silêncio de ubre.
Nos caldeirões dos vulcões íntimos
A tua presença efêmera.
Descer aos infernos.
Buscar o lagarto-Ser
(Há uma voz que soa
Com invisível peso
na alma-talismã.)
Sou um esquecimento.
Dentro do vácuo de não-Ser, sôo
(Ubre de tua voz:
silêncio de pertencer-me teu)

Domínios de Foro Íntimo
Domino
Minha arquitetura de insano
E preparo-me para atravessar
Esse deserto dentro de mim

Fases em que sou porcelana.
(Penso que estou sendo roubado
Ou seguido
E meu instinto apurado vicia-me
Forçando a arquitetura instintal)

Sei quantas naus
Fazem uma existência galáxia
Sei quanto amor
Invalida um teto intocável.
……………………………………
(Domino
Meu desejo de voar para o aquém
E caibo-me em mim
Porcelana envernizada de desuso)

Borboleta Presa no Criado-Mudo
A borboleta cinza, presa
Dentro do criado-mudo
Lê toda a minha tristeza
E não escapa, contudo

Ainda retida a vejo
Entre souvenirs, pincéis
Rendida em meu desejo
Perto de pedras, anéis

Que se ligam ao passado
Que ao meu hoje influi
Nas cinzas do meu estado
O meu pertencer conclui

De uma maneira patética
Como borboleta refém
Dando asa à estética
Do meu amor tão sem

Metáforas
Passar a vida inteira escrevendo corrige
Algumas metáforas
Do que até pode realmente significar Existir
Extravaso-me, diluo
O peso do subviver
Exerço uma catarse
Decompondo-me, criando

Cada palavra, frase, sentença, dor
De uma outra nova forma reinventada
Tornando-me, reagente, ao rever
O exercício inglório dessa vida

Uns me pedem conselhos: dou poemas
Outros invejam-me; e constróem castelos
de areia para mim
Mas eu escrevo como se um condenado
A depor, delatar – deixar claro para os
abismos do futuro
A minha insatisfação com a mediocridade

À Sós Comigo…
Quando quero estar um pouco à sós comigo
Esqueço, desligo
E bebo uma cerveja gelada
Depois tomo outra e assim por diante
Como se durante
Desse-me com a minha porta de entrada

E quando encontro-me comigo, à sós
Meu escrever é porta-voz
De uma morte anunciada
Afinal, viver nem sempre é poesia pura
Às vezes, até uma ruptura
De quem, no Existir não está com nada

Depois de comigo à sós me restar
Sem dança – sem par
Eu me resto totalmente revelado
Então eu esqueço a existência
De outro mundo tomo ciência
E é cada um (poema) pro seu lado

APRENDI A ANDAR COM MULETAS
Aprendi a andar com muletas
Dói-me os ombros, as mãos
A coluna e os punhos
Mas conservo-me em pé, pulando

Caí, cortei-me, feri-me, me vi
Ao rés do chão – num bosque
De ricos passando – um mendigo
De pobres hilários, rindo de mim

Aprendi a andar de muletas
Em casa, como um cavalo, um potro
Tropeço nos tacos soltos
Nos ácaros, espelhos, máscaras

(De madrugada, escondido
Tomei cerveja – escrevi
As muletas então eram outras
Com poemas voar aprendi…)

Achados & Perdidos
Troco envelopes brancos fechados
De cartas anônimas de suicidas
Por jubas de paquidermes antigos
E sombras de dentes-de-leão trazidas de pétreos pomares judeus

Aceito partituras de velhos blues
E saltos de sapatos de palhaços
Em troca de falsos esboços de Picasso
Ou mentiras de mães solteiras escritas em papel-carbono lilás

Vendo os meus bobos direitos autorais
(São milhares de poemas endêmicos)
Por ninharias como desejos de ser feliz
Ou pedaços de frutas cristalizadas roubadas de Casablanca

Aceito doações de tonéis de vírgulas
E postas de peixes cegos por mercúrio
Vendo minha coleção de canivetes
Minha coleção de adeuses escondidos (íntimos) de fins de arco-íris

Guardo capotes suados de operários
Pinto janelas que dão para abismais
Tomo conta de coleções de lesmas
Por conta de atirarem fósforos usados no dia do meu enterro

Minto poemas com gordas rimas
Lavo cachorros vadios de ruelas
Pinto vãos de cervas, anões de jardins
E até, aceito, no íntimo, gritos de pedido de socorro, em vão…

Se alguém quiser saber meu endereço
Onde eu moro – como uma tatuagem
Pergunte à uma alma livre como lupa
E esprema limões de gracezas nas esperanças cor-de-rosa

Eu estou aqui e ali como um salmo
Pertenço à Nau de Ícaro das chuvas
E cada um pode me reparar em si
Quando o sol brilhar (E for triste e solitário dia de relâmpagos. )

Nunca Mais
Nunca me deixaram ser o que sou
Mas eu continuo sendo
Invento meu próprio mundo e dou
Testemunho que sigo vendo
Às vezes sei que o sonho acabou
Outras vezes pretendo
Crio meu medo triste e vou
Sonhar o que está nascendo
Se me deixam só, só estou
E me sinto horrendo
(Depois que o amor me marcou
Não sei o que está acontecendo)
Nunca me deixaram – e eu sou
O que no criar pretendo
Dou-me comigo e assim vou
Eu de mim mesmo havendo

“Em Flor” (Cantar de Amor)
Quando te vejo
Amanheço de novo meu radar noturno
Coloco caprichos nos sonhos
E aconteço minha epifania
De ter te deixado ir-me

Quando te vejo
Compoto um arco-íris quase avelã
Embrulho o coração porto
Forço minha angústia-vívere
Ser-me de próprio punho

Quando te vejo
Desabandono-me no Eu de Mim
Troco andaimes com tristices
E ainda hei de – Ai sofrências!
Pertencer-me em ti; todo teu

Quando te vejo
Levanto-me de ser um “Sentidor”
Secreto te oferto amor
Clandestino – louco que seja
Além de platônico, EM FLOR!

EU, VOCÊ, NÓS
“Bati em tua porta/E perguntaste: -Quem és?/Tolo, eu respondi/Sou eu – e
limpei os pés/Mas, disseste, aqui/Aqui só cabe um – fiquei à sós/Pois eu
amadureci/E voltei a ouvir tua voz/E disseste: -Quem está aí?/Eu de presto
respondi: Nós!/Então me deixaste entrar/E juntos temos um LAR”

O AMOR
O amor é um refém
Que espera ser liberto
Um herói – deve haver alguém
Que tenha o coração à céu aberto

O amor é um refém
Em si mesmo condenado
Mas na esperança também
Paga um preço de alumbrado

O amor é um refém
Sem razão – sem endereço
Como ao coração convém
Achar alguém que pague o preço

O amor é um refém
Triste – a esperar resgate
Na solidão pode ir além
Até que o sonho impossível o mate

(O amor é de ninguém?)

O GADO
O gado no campo
Procura compreender o seu dono
Lavrando, lavrando
Com raiva, com medo, com sono

O gado no campo
Procura compreender o Humano
Correndo, cuorando
Como se se fundasse no dano

O gado no campo
Procura compreender a humanidade
A igreja, o banco
A cela, a solidão, a saudade

……………………………………..

O gado no campo
Procura avaliar o seu estado
(E vê o Ser Humano
No redil de sua sina confinado!)

VIAGEM
Tomo-me de mim, pelas mãos
E ando – nas palavras
Caminhos, hangares, véus (viagens)
Pé direito enfaixado: passaporte

Nunca estou exatamente em mim
Divago: catarse (alumbramento)
No onirismo de escrever, vôo
O par de muletas – as asas

Sempre fui assim: viajador
A abstração – o íntimo-coisa
As palavras, fluxos inconscientes
E a poesia-fuga: Poesilha

Agora que estou de pé torto
Zumbi a escrever ninhais
Pertenço-me; ourives textamentário
E escrevo: palavras de ver-me

NO DIA DE IR-ME EMBORA
No dia de ir-me embora
Como eu vim, feito seqüela
Direi adeus escondido, no olhar
E depois tomarei licor de ausência

Meu armário e meus alunos
Meus sonhadores pedagogos
Sairei como um pássaro velho
Indo em busca do meu rincão

Talvez eu deixe saudades
As loucuras, o humor, os sonhos
Quem me amou, criou cardumes
Quem me ignorou, serviu-se

No dia de ir-me embora
Com minha cotovia no íntimo
Com meu bandoneom no peito
Não chorem: mereçam-se

Quando Vencer o Meu Prazo
Quando vencer o meu prazo nessa estadia
E o bruxo do tempo vier me buscar
Não direi adeus – esconderei esse dia
E sairei em silêncio para não chorar

Sairei pelos cantos como um condenado
Darei a última aula – e irei-me embora
O ritual do destino é cada um pro seu lado
Nem gosto de dizer Adeus nessa hora

Pegarei a mochila, o apagador, o boné
A velha e carcomida caixa de giz
E de mansinho retornarei para Itararé
Como se tivesse sido um pouco feliz

Talvez meus amigos sintam minha ausência
Ou meus inimigos digam gracezas de mim
Se amei e não fui amado, paciência
Cada ciclo tem lavra, princípio, meio e fim

DIA DE CAUBY
Tem dia que eu acordo Elis Regina
E canto Casa no Campo
Como Nossos Pais
Ou Madalena e Arrastão

Tem dia que eu acordo Jamelão
E canto Lupiscínio
E com fascínio canto até samba-enredo
Ou samba-canção

Mas tem dia que eu acordo puto da vida
E é exatamente nesse dia
Que eu faço poesia e canto CONCEIÇÃO!
Silas Correa Leite – E-mail: poesilas@terra.com.br – Site: www.itarare.com.br/silas.htm

Os 18 anos de Silas

O autor, com dezoito anos, na Praça da Luz em São Paulo, Ano 1970, recém chegado de Santa Itararé das Letras, migrando para estudar, trabalhar e poder realizar seus sonhos de escrever livros e vencer na vida.

Almanaque de natal 2010

POEMA

Ouço o jazz
Da serralheria artística

Mais do que ouço;
Vejo

(Cordas e Metais, SCL)

COLAPSO
A poesia é o capital simbólico das seqüelas do meu dezelo íntimo e colapso existencial (SCL, In, Lume Neutro, Caderno de Rascunhos Poéticos, Dezembro 2010)

CAFEINATO
“Resto de café/No copo, sobra/Só, o cheiro/Que reina…” (SCL)

SALVAÇÃO
A minha poesia me salva de mim, porque me aliena do mundo em que estupidamente sobrevivo (SCL)

PITANGAL
Chão de pitangas:
A árvore debulha sangue
E drops góticos
( Terceto Rubro No Chão, SCL)

INQUERER
A vida me deu um baita abacaxi para descascar/Fiz uma caipirinha de limão para a patroa/E fui tomar chope com os amigos no bar (SCL)

VERSUS
Acho que quero que todos os poemas de minha vida/Preencham para sempre a minha infância perdida (SCL)

ALMANAQUE
01)-Os dias assam como um canivete numa cebola – 02)-Choro escondido porque não tenho ninguém para chorar perto – 03)-Escrevo vozez que não existem e me sinto em casa – 04)-O dia de hoje nem deveria ter existido – 05)-Só tenho visões quando estou em minha aldeia Itararé 06)-Não sei o que estou fazendo comigo quando me encontro a sós – 07)-Poemas são pedidos de socorro em vão 08)-Escrevo para ter uma realidade substituta – 09)-Ando meio desparafusado do meu íntimo – 10)-Amar e escrever tem tudo a ver com escrever – 11)-As trilhas dão em nós mesmos quando estamos sós – 12)-No circo da vida estamos sem rede de proteção – 13)-A arte tem o sentido de nos preservar do real – 14)-Viver não deve ser só um esconderijo de idéias (SCL, Díspares Íntimos, Primeiro Rascunhos)

MICROCONTO
O circo pegou fogo. Todos os animais foram salvos (SCL, Álcool de Noé)

PARLENDA DE PELÚCIA
Disseram as uvas, fazendo tipo: -As raposas estão verdes. (SCL)

BICO DE PENA
O transe criativo paira sobre o poeta como uma clarificação (Transe, SCL)

SOBREVIVÊNCIA
Eu escrevo porque sou ingênuo, e tento recriar na arte, a dor do que fiz de mim, a partir do que a sobrevivência possível fez de mim (SCL)

LOUCURA, CHICLETE E SOM
Um poeta louco pichou num muro em Samparaguai: Salvem os silêncios. (SCL)

DESORIENTADO
Escrever me desorienta. Assim eu sobrevivo alienado da corja humana, no pântano da hipocrisia social (SCL)

CURTA E GROSSA
Viver é plágio (SCL)

INCOMPLETUDE
Eu não permaneço no que escrevo. Eu não suportaria (SCL)

POÉTICA
Deixem-me em paz com a minha guerra (SCL)

ESCOMBRO
Minha literatura é um escombro tragicômico da minha triste sensibilidade ferida, por ter que forçosamente parecer-me com humano (SCL)

LEVE E SUAVE
Viver é como escrever: é só correr o risco. Assino embaixo. (SCL, Para Não Dizer Que Não Falei de Flores)

LIRICAL
Sou um escrevedor de desertos. Minha lácrima poética seca no formigueiro das palavras. Então eu verto calvários, silencitudes, perguntamentos, lumeneutros e irrazões no seco de minha aridez intima, e ainda assim, por isso mesmo, paradoxalmente lírica (SCL)

FALANDO SÉRIO
A poesia é algema ou liberdade? (A Máscara de Ser-me/Prisioneiro de Mim Mesmo, SCL)

QUEBRA GELO
Um poeta se alimenta de nódoas (Sobrevida, fragmento, SCL)

CAUSINHO
Quando as pessoas começam desesperadamente a me evitar, quando animais selvagens saem correndo de mim quando passo pelas trilhas, quando animais domésticos se entocam apavorados quando aponto na curva da esquina, quando mandorovás caem secos das jabuticabeiras e camaleões se escondem de roxo quando surjo no devão do quintal, quando urubus passam voando baixo com uma asa cobrindo as narinas, então finalmente compreendo que está na hora de tomar banho, mesmo sabendo que o banho faz mal pra água (Preserve o Banho, SCL)

LIBERTAÇÃO
Estou terrivelmente começando a parecer com humano e isso é um perigo. Acho que está na hora de eu ser recolhido para ser reciclado, talvez se aproveite alguma peça de reposição na carcaça (SCL)

POEMINHO
A pele que eu habito/Não me adere/Então escrevendo regurgito/O que me fere/A poesia é o meu grito/Além da pele/Pode ser que nesse rito/Eu me sele (SCL, Lume Neutro)

CONTINHO
Tem alguém me esperando voltar (SCL, Céu Aberto)

-0-

Doador universal de sangue

Crônica de Uma Doação de Sangue

O estoque de sangue estava baixíssimo. A campanha pelo rádio e tevê, naquela friorenta e úmida sexta-feira de final de agosto de 2003, cobrando doares de todos os tipos de sangue, não funcionara como previram, e como os atendera em outras vezes na mesma situação de carência. Os voluntários não vinham. O desânimo era geral. Da UTI vinham os recados via-rádio de que muitos pacientes até mesmo em Coma estavam em situação de risco por causa daquela carência vital. Enfermeiros tristes suspiravam nos postos de coleta vazios. Até mesmo, informavam, o impressionante menino superdotado de nome Rafael Orlando, que tivera um acidente com skate numa pista pública de Itararé, cidade do interior, estava entre a vida e a morte, poderia morrer em pouco tempo.

Os enfermeiros do Hospital das Clínicas começaram a escolher, entre ele, sem os riscos naturais c calculados, quem poderia doar sangue com segurança. Mobilização geral. Quem estava em época de doação, quem não tinha bebido no dia, quem não tomara remédios principalmente aspirina, quem tinha peso, idade e situação de doar sem riscos. Rafael, o menino internado e que sofrera delicadas operações de micro-cirurgias no cérebro era uma promessa de vir a ser um cientista político (era seu sonho, dizia sempre) e talvez, mais pra frente, depois de um operário presidente consertando o básico das peças públicas em reforma, poderia sim, um dia sonhar em ser aproveitado como político, para como eventual Presidente da República tornar o país uma potência sem riscos graves de convulsões por causa do país com seus históricos contrastes sociais, lucros impunes, riquezas injustas.

Alguma coisa tinha de ser feita. Não havia tempo a perder. Até que aparecesse alguns doares raros e ocasionais, remendando o problema grave, o estoque fosse parcialmente provido, as vidas fossem salvas. Em horas de espera solene e muitas preces pra dentro, lamentavelmente não pintou nenhum só doador, nem pra remédio ou que realizasse a salvação circunstancial das vítimas em potencial, dos pacientes em caso terminais, e tantas vidas preciosas seriam perdidas pela falta de sangue de transfusão. Rafael talvez fosse o primeiro a morrer quando chagasse tudo ao fim.

Enfermeiros e médicos doaram o que puderam, uns e outros foram providos, mas mesmo entre os funcionários do Hospital das Clínicas já não havia mais candidato aproveitável e nem como tirar sangue de gente da casa mesmo, a prover o baixo estoque do banco de sangue. A chefe do Setor de Enfermagem, Dona Doca, o Dr. Anselmo Justo e mesmo a Ouvidora-Chefe do setor, além do Diretor-Presidente da Fundação Pró-Sangue, Dr. Dalton Chamone, todos em lágrimas e desesperados, incontinente acionavam emissoras de tevê e imploravam sensibilização geral no ar, na mídia, havia médico caçando eventuais doares nas ruas concorridas de gente correndo feito baratas tontas, enfermeiros interpelavam passantes pedestres nos concorridos pontos de ônibus, mas parece que ninguém podia, o mundo parecia ter parado num vão de insensibilidade generalizada pela bruteza da cidade grande em carestia, uns faziam alegações bobas, outras davam desculpas brabas, outros mentiam situações, uns eram doentes, outros pacientes em trânsito, outros empanturrados de química de todos os tipos e resultantes, viciados, covardes, insensíveis, medrosos, a situação era realmente grave. O céu por testemunha.

O Faxineiro Januário, que já tinha doado duas vezes em três dias, sem informar ninguém e sem poder de forma lega (usou outro nome), só querendo ajudar mesmo não podendo e fazendo mais do que devia, comentou então que, só mesmo um milagre poderia alvar aquele banco de sangue de maior volume de toda a América do Sul numa área com inchamento populacional de quase vinte milhões de habitantes. A palavra era aquela. Milagre. A esperança também.

Alguns funcionários rezavam. Cheios de sonhos. Deus era maior. Guardas do setor de segurança já doavam mesmo sem poderem, tal a precisão, mas, enquanto uns poucos e raros doavam, os estoques básicos iam baixando e os parentes dos pacientes se alvoroçavam, amigos de vítimas se escolhiam apontando eventuais alvos, todos se mobilizavam mas faltavam um doador de sangue O + que era o sangue de Rafael, o menino de olhos cor de jade e cabelos de trigo, adorado por todos pelo potencial de cultura, talento e vivacidade.

Era um dia frio, o tempo estava amuado, fim de tarde ruim, todos emocionados, uns e outro se sondando, a dona da cantina se oferecendo pela segunda vez em quinze dias, quando finalmente apareceu um doador não conhecido por ali, como se surgisse do nada.

Fez o teste de anemia tranqüilo e sereno, e o sangue jorrou forte no vidrinho que cortou o grande dedo indicador. Parecia mesmo costumeiro doador universal em potencial. Tomara fosse.

Pesado na balança ali posta para isso – alegou como desculpa sem pé nem cabeça que não sabia seu peso nessa dimensão – deu exatos noventa quilos, um metro e oitenta de altura. Tomaram a pressão e era baixa mas o tipo moreno, olhos castanhos incisivos, brilhantes cabelos crespos grandes, gestos largos, andava como um manequim em passarela o tempo todo, como se pisasse estrelas. O mais belo sorriso do mundo, foi para a sala de testes, com as perguntas pré-programadas.

Não se recusara a responder nenhuma questão, sempre solícito, natural, verdadeiro, honrado por estar ali em situação emergencial, não era doador de riscos, não estivera em nenhuma área perigosa, não estivera preso e nem tivera amantes ou amigos presos, sequer tatuagens. A Enfermeira Esther contente e emocionada só estranhou quando perguntou se ele doara já alguma vez, se já tivera experiência nesse fito de exercício de cidadania com ética-plural-comunitária – e ela confessou isso muito depois – que meio que entendeu surpresa que ele doara sangue sim, mais muitos séculos atrás.

Não acreditou e não teve coragem-impulso para questionar aquilo de inusitado.

Pediu que ele se apressasse pois o tempo urgia, ele parecia que, ao andar, irradiava espaços pertinentes, tudo se movia abrindo luz ao derredor dele, como se abrisse caminhos no oxigênio, no ar, vigiado por luzes terreais e provido por asas além da imaginação abrindo portas e testemunhos presenciais de luzes.

Foi assinar a lista obrigatória, quando teria que fazer a opção para afirmar em Sim ou Não se era doador de risco. E foi ali que estranharam ainda mais, como se um sinal, quando a máquina começou a repentinamente a dizer a frase codificada pelo computador para responder automaticamente sempre que alguém votava.

-Obrigado por sua doação. Você pode estar salvando uma vida.

O programa da máquina disse isso e parece que pifou tudo, ou travou o mecanismo de infovias, talvez tivesse alguma radiação inexplicável esgotado o programa. E a máquina sob paredes de privacidades passou a repetir a mesma informação.

-Obrigado, você pode estar salvando uma vida. Você pode estar salvando uma vida…você pode estar salvando uma vida. Você pode…

Enquanto a máquina repetia o mote – o que surpreendia a todos pois nunca falhara – aquele enorme ser simpático e cativante sentava cândido e oferecia o quadrado sorriso largo, os olhos brilhantes, o enorme corpo sarado, o braço largo da pele rósea com a enfermeira Vívian quase chorando de emoção, tocada de alguma forma, nervosamente mas tentando se controlar passando o algodão com álcool e também sentindo que as veias do doador como se se ofereciam para salvar o dia, salvar as vidas, salvar a situação, salvar o setor.

Colocou a agulha com delicadeza, perguntou se estava tudo bem, e, parece que mal-e-mal passou o átimo de um milésimo de segundo e o sangue farto e quase azul de tão denso, jorrou meio que iluminado de encher o invólucro que parece que inchou.

Estranharam aquela doação rápida, quase um recorde. Vidas tinham que ser salvas. Parecia que anjos aplaudiam de altos céus inimagináveis. Correram levar o sangue pro andar emergencial que dava pra UTI daquele departamento.

Lá de cima um médico do laboratório confirmou que o sangue era Ó Positivo (em código Ó Mais) e todos sorriram, alguns bateram palmas, outros se abraçaram, muitos agradeceram a Deus, pois o jovem Rafael com nome de anjo estava salvo. Foi quando a teimosa e curiosa enfermeira Esther entregou o crachá para que o doador especial ali fosse tomar seu suco de caju, comer seu lanche de frios para recuperar energia. Mal ele virou a sala e ganhou o corredor da Cantina do Setor de Doação de Sangue do Hospital das Clínicas, foi como se se abrissem todas as portas do céu. Era um milagre e tanto. Como se o mundo inteiro desembarcasse estações orbitais e nuvens-naus ali no setor de recolhe e coletas da Fundação Pró-Sangue.

Dezenas de doadores foram chegando, um atrás do outro, todos bem parecidos de fortes e puros, como se fossem todos de uma mesma família, talvez não desse mundo, talvez uma família cósmica…talvez de todas as dimensões espaciais, de todas as dobras do espaço sideral, que para ali chamadas por uma ordem imperial acorrendo foram acudir um chamado espiritual de quem em nome do amor abrira todas as portas dos tempos, todas as portas dos afetos, das solidariedades, das serventias, das doações nobres e sagradas.

Esther não agüentou. Sentira algo no ar. Era meio sensitiva mesmo, se sublimando no entanto na lida árdua ali em Sampa desvairada de muito ouro e pouco pão.

De alguma forma tinha sido tocada em sua sensibilidade sempre afinada com o verbo servir e o verbo Sentir.

Largou a dúzia de enfermeiros serviçais daquela leva de plantão, e pela porta da frente correu cercar na saída o doador que salvara Rafael, pois lá de cima do setor viera a informação de que o sangue era ótimo até demais, pois Rafael até voltara a si depois de um Coma de dias, como se tivesse usado um sangue fora de série, como se realmente um milagre se consumasse mesmo numa doação fora de série.

Esther atropelou a fila de entrevistados, desviou-se da fila dos que mediam pressão, driblou serelepe a fila dos que tiravam sangue pra ver se estavam com anemia, pulou a fila dos que pegavam senha, virou à esquerda antes da enorme fila dos que se candidatavam frente a ala da informática central.

Saiu pela porta da frente minutos depois que o doador belo e forte saíra no sentido da cantina em corredor paralelo, e então entrou lados da cantina toda lépida. Mas não viu ninguém. Não havia nada. O que teria acontecido? Cadê o doador?

Estaria no banheiro? Será o impossível? Onde já se viu aquilo? Tem cabimento? Cismou. A alma recebeu um jorro da paz infinital. O peito disparou um bólido.

Perguntou pra Dulcinéia da cantina. Ela não vira ninguém. Perguntou pra faxineira daquela área se vira alguém sair vestindo uma blusa salmão, informou do crachá para o doador pegar lanche de costume mas a moça humilde disse estar ali havia cerca de meia hora e não passara ninguém. O que estava havendo?

Como podia ser isso?

Enquanto os milhares de doadores corriam acudir finalmente os pedidos e se revezavam com orgulho a doar sangue, a curiosa Esther sentou-se num banco do madeira que havia defronte à cantina e começou a chorar emocionada, suspirando, tocada. Que experiência era aquela. O que teria ocorrido? Quem teria sido aquele doador universal em tão importante momento crucial do Setor de Doação do Hemocentro do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Não compreendia o inexplicável. Lembrou-se então que a enfermeira que pegara a bolsa de sangue para legar pro andar de cima, dissera que ela estava quente. Radiação?

Estava sem resposta.

Então viu o cartão que entregara ao homem que dizia se chamar José Carlos. Correu pegar o impresso que deveria estar com dados do doador, largado ali ao lado da garrafa térmica de café com leite e de chocolate quente, como se ali um fantasma tivesse bebido chocolate sem ninguém perceber.

Foi quando compreendeu tudo.

No cartão os dados básicos e obrigatórios do doador estranhamente tinham sumido, inclusive os dados sobre futuras avaliações de exames sorológicos, como se o pequeno cartão nunca tivesse sido preenchido pelos atendentes formais do setor informatizado do cadastro central e protocolo, como se fosse alma de outro mundo se mostrando doador universal, mais de dois mil anos de ter dado seu precioso sangue para salvar o mundo.

No lugar em que deveria estar obrigatoriamente o adesivo com o código de barras mais o nome da pessoa impresso pelo computador e o número-identificação de praxe, lá estava um informação que antes não havia. Era um sinal que durou alguns segundos apenas, e só Esther teve a sua resposta única, quase que um oferenda de luz. A história virou lenda para sempre ali no Hospital das Clínicas. Contam isso até hoje.

Sim, alumbrada Esther finalmente compreendeu tudo, iluminada e em pranto de emoção sem igual.

Num espaço diminuto do cartão de doação estava escrito Jesus Cristo.

Fazia sentido.

Realmente Ele tinha sido crucificado, doado seu sagrado sangue na cruz há mais de dois mil anos atrás, tinha ressuscitado e voltado à casa do Pai-Criador depois de resgatar os pecados do mundo, portanto, tinha sido mesmo e para sempre o maior Doador Universal da história da humanidade.

-0-

Eugenia

Para Eugenia Melo e Castro,
Cantora Portuguesa

Hoje eu te vi cantar pela primeira vez
E havia naus seculares no remanso de teu cântico em deleite
Tua voz vinha como um cravo vermelho na iluminura do
rosto
Que até amanheci minha matiz poética.

[Hoje te ouvi numa voz que sorria no soar
E teus olhos tinham estilhaços de velas acesas trazidas da
alma
Tua voz tecia o bilro – num tear de azulejos íntimos
Que plantei petúnias nos sonhos]

Hoje te vi cantar pela primeira vez
E sei que apenas foi um Reencontro
De milênios.

[Mas não chorei
Loucos não choram nunca mais.
Loucos escrevem-se
E ouvem chamados íntimos, antigos; de um, agora, inexistente
Cais.]

Hoje te vi cantar
E não voei, não escrevi, não tomei cerveja preta
Pus-me a te contemplar água viva
Estrela do Mar na âncora do meu Ser Nau Catarineta.

Sei que voltarás para o Rio Tejo
Portugal está em tua face como um mapa de erranças
E em teu canto como um vento noturno de incensos
Depois nunca mais te verei, olhos castanhos
Talvez nunca sejamos apresentados
Mas teu canto é teu elmo.

Eu sou um pobre – e triste e simples – poeta brasileiro
Com meu floretim de pelica
E minha poesia de damascos e desertos sem fim.

Conto Garrafas

“O senhor mire, veja: o mais importante e
bonito do mundo é isto: que as pessoas não
estão sempre iguais, ainda não foram
terminadas… ”
– Guimarães Rosa

-Sabe porque mandei chamá-lo, Seu Cirineu!

-Sei não doutor, sei não Seu Delegado…

-O senhor sabe o que é isso?

-Depende, doutor. Depende muito…

-O senhor não me enrole, está vendo, Seu Cirineu? Não me maroteie.

-É só uma ideiazinha minha, doutor.

-O senhor todo santo dia, sem tirar nem pôr, sem parar, faz uma mensagem de pedido de socorro curta e grossa, envia numa garrafa de cerveja que entorna de vereda feito um viciado de miolo mole, e atira numa vazão do Rio Itararé?

-Pois é, Seu Doutor. Não pensei que um bendito dia iriam descobrir esse meu segredinho de mala e cuia, esse meu defeito de fabricação por assim dizer, esse meu probleminha…

-O senhor bate bem da cachola, Seu Cirineu?

-Foi só uma mera tentativa, Seu Doutor, não quis importunar ninguém…nem fazer feio, sequer quis chatear o senhor…

-Sabe quantas garrafas dessas, com seus inusitados pedidos, foram recolhidos nesses mais de 365 dias, Seu Cirineu?

-Sei não, Doutor, sei não…

-Parece que já pegaram outras, aos montes, semeadas aqui e ali… Aliás, falando sério, diga-me lá, o senhor nunca teve um retorno qualquer, desses seus pedidos, de alguma maneira, por algum motivo ou situação de resposta incrível?

-É a primeira vez que me acham… Quero dizer, que sou inoportuno, e ainda acabo assim sendo um baita empecilho para o senhor, não é Doutor. Feijão?

-Bem, é o seguinte, Seu Cirineu: nada pessoal, sabe, mas o senhor precisa fazer um, ponhamos, tratamento. Compreende? O senhor deveria procurar o Doutor Jonas de Alencar na Santa Casa. Sabe, talvez de morar ali pertico da Gruta da Barreira, do Parque Ecológico das Andorinhas Bentas, o senhor esteja influenciado, talvez sofra alguma radiação, sabei-me lá… Além do senhor deixar de poluir o Rio Itararé com uma bendita garrafa todo santo dia, ainda iria melhorar muito do juízo, ter companhia, tomar uns remédios, viver melhor. O senhor me entende; compreende o que eu estou tentando dizer?

-O senhor por acaso leu a mensagem que vai sempre dentro da garrafa, Doutor Feijão?

-Sempre a mesma… Sempre a mesma… Disseram…

-Quem “disseram”, Doutor?

-Não importa, sei que é sempre a mesma mensagem de pedido de socorro que o senhor enfia dentro da garrafa vazia de cerveja…

-Então o senhor por certo, leu direitinho…

-Digamos que li sim, Seu Cirineu. Li sim.

-E então, Doutor, falando francamente, o que o senhor acha? Eu estou pirando? O meu grito de agonia tem cabimento, faz sentido, há alguma saída pro meu causo?

-Sabe, seu Cirineu, cá entre nós, que ninguém nos ouça, falando do fundo do meu coração, se eu pudesse, se eu não fosse normal, comum, se eu não fosse autoridade constituída por lei, eu, sinceramente, faria a mesma coisa, a mesma mensagem, até num rio maior, quem sabe…

-Então o senhor não vai me prender, abrir inquérito, coisa de-assim?

-Não vou não, Seu Cirineu. Chamei o senhor aqui mais por obrigação, desencargo formal de consciência, sabe, foi o pessoal da seccional do IBAM que trouxe o problema…

-Devem de achar que eu sou um purgante, cabeça de vento, da pá virada, miolo mole…

-Não senhor, até respeitaram a sua mensagem, o seu objetivo. Acho que me trouxeram uma das garrafas mais por obrigação de oficio, só isso.

-O senhor vai fazer o que, então, Doutor Feijão?

-Nada, só um termo de circunstância, carimbo, papel oficial, assinar e mandar pro arquivo morto…

-E depois vai me liberar sem qualquer sanção?

-Claro, Seu Cirineu. O senhor está livre. Sabe, este mundo do jeito que vai, precisa de mais gente sensível como o senhor. Foi um prazer enorme conhecê-lo, uma grande honra pra mim, sabe. Fiquei até comovido. Aprendi muito com o seu gesto, a sua alma de pássaro, a sua sensibilidade fora do comum. Falando francamente, sinceramente espero que um dia alguém certo acabe achando a sua mensagem, alguém desse ou de outro mundo, sabe, o recebedor certo, a dimensão certa… e então o senhor seja atendido, resgatado…liberto… talvez… quem sabe…

-Então vou indo, Seu Delegado. Tenho que passar no Armazém do Antonio Pelissari ainda, comprar a bóia do mês.

-Vá com Deus, Seu Cirineu. O senhor se cuide direitinho, hein?

E o aparentemente agora cândido do Seu Cirineu, um viúvo sexagenário sem herdeiros ou ancestrais vivos, ex chefe-de-trem aposentado da Estação Sorocabana, viajado nas malhas dos ramais ferroviários da região de Itararé toda, ainda algo encabulado, com problemas hormonais mais alguma ocasional depressão pela solidão-coivara, responde, ao seu jeito de treva branca, todo moleirão:

– Obrigado Doutor. Prometo que quando tomar a próxima cerveja preta de novo, ao escrever a mesma mensagem de sempre, vou pensar muito no senhor. Com esperança de que, nalgum lugar eu seja finalmente identificado, e venham me levar de volta para a minha casa que é do outro lado… Que venham me levar para o meu verdadeiro lar… Pois minha alma não é desse mundo, e deve certamente que haver uma Itararé Celeste… Uma Shangri-lá… Uma Pasárgada…