Fragmento de goto

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21 de janeiro de 2020 às 17:47 ·
FRAGMENTO DE GOTO
A LENDA DO REINO DO BARQUEIRO NOTURNO DE ITARARÉ
ROMANCE, DE Silas Corrêa leite
Considerado o melhor livro do autor

A Dor da Última Viagem

Era a terceira vez aquela semana de outubro, que ela saía da bela casa no Bairro da Casa Verde na Zona Norte da capital paulista. Tomava um táxi especial para uma corrida que custava caro e era longa, e lá se ia entrevada pra Moema, bairro nobre da capital agitada, ver os escombros de ruas, casas e parques, entre monturos e restos de lixões do que eram as marcas de casas destruídas pelo acidente com o Voo 3737, que caíra perto do Aeroporto de Congonhas ao mal tentar o início da rota de Curitiba, e que ali, num acidente grave em pouso de emergência, vitimara todos os cento e treze passageiros, entre os quais sua filha única de nome Luz Andréia, e sua irmã Sandra Helena além de seu cunhado Ítalo Elisério Fernandes.

A dor da perda ainda de poucos meses atrás, estava em carne viva nalguma parte íntima de seu corpo. Não se consolava. Estava passada de dor, a estima era baixa, tivera depressão, vivia se socorrendo por assim dizer, apenas em fazer aquela viagem urbana cara, gastando o pouco que tinha de um emprego de professora universitária de Geologia da USP, e ali, entre os escombros de prédios queimados, muros desfeitos, ruas com buracos de explosões, ela ia atirada campear uma imagem qualquer, um sinal de paz, uma saudade táctil da filha Luz, da irmã caçula que adorava tanto, e do cunhado que era pintor impressionista e seu melhor amigo.

Os amigos do trampo entravam na conversa, davam palpites solidários, tentavam consolar como era possível, mas, no campus universitário da USP ela também se mostrava extremamente carente, desacorçoada, entregue. Em casa, com um cachorro doente de nome Tupi, e um gato cego de um olho de nome Calibre, a Professora-Doutora Isaura Casanobre Di Carli tentava mal-e-mal e porcamente sobreviver, vendo fotos antigas dos abraços, filmes coloridos de festins maravilhosos, curtindo o cantinho-quarto da filha Luz que arrumava todo santo dia, como se a esperar que, num milagre, a filha – num passe de mágica divina – um dia finalmente voltasse pra casa e dissesse que tudo tinha sido mesmo um pesadelo.

Isaura, quarenta anos, mãe solteira e cabeça feita, oriunda da Estância Boêmia de Itararé, interior sul de São Paulo, um metro e oitenta, branca com pele de seda, olhos negros como a alma da noite, encorpada e feliz até então, poderosa, despachada, determinada e libertária. Com aquele acidente trágico do que seria um sereno voo Curitiba-São Paulo pela Varig, tinha perdido a razão de viver, a própria razão de ser. Era outra pessoa. Parecia outra.

Os olhos antes brilhantes, murcharam. A pressão que era normalíssima, subiu. Passou a tomar remédios e a tentar se esconder em livros, teses, ensaios, ilusões, pois que sempre lhe dava um treco estranho e, sem chão, com a dor insuportável puxando o seu tapete, lá ia ela, com um táxi, sondar os escombros do que era o lugar em que o avião pousara já pegando fogo, antes de explodir, crendo que talvez ali naquele espaço de tragédia fatal desse também de empatar os escombros de sua alma, de seu coração, de sua pouca resistência ferida entre um abismo e o vazio que leva ao cárcere do nada.

Naquele domingo de antes de finados, não foi diferente. Parecia possuída. O dia dos mortos se aproximando, e ela, com a morte presencial nos olhos, nos gestos secos, nas palavras duras, e como se também na aura, no halo. Fincada entre remédios pesados de tratamento emergencial, ia levando a toada da vida louca. Mas não se entregava ao caminho da recuperação. Do cargo tirara licença, entrara em tratamento difícil, não aguentara o tranco das perdas, se apegara agora a parentes distantes de Itararé, entre cartas enormes e plangentes, demorados telefonemas caros, mas, no fundo estava mesmo perdida, totalmente transfigurada. O cálice transbordara.

Era uma casca de nós no oceano da vida embrutecida com sargaços.

Nem o domingo de sol reviçou sua vida; nem os pássaros bondiando a manhã de primavera calorenta lhe tiraram de si, muito menos os animais caseiros lhe traziam uma demão de aprumo íntimo. Passada, fora de si, tomou o táxi branco e foi trajetar sua via crúcis. Um veículo que rodou mais de vinte quilômetros sentido centro, depois garrou o bairro chique de Moema, em seguida pegou sentido de Congonhas, e, na travessa em que podia desembarcar, pagou a corrida, apeou meio que em transe, e se foi sozinha entre alguns moradores e curiosos já acostumados com aquela mulher com feição de fantasma, amarga e campeando saudades entre restos da aeronave, cruzes e velas, flores e pedaços de pneus, de tijolos e de estilhaços metálicos. Enquanto isso a Força Aérea Brasileira fazia perícias no local, tentando encontrar a caixa preta, em que pese já soubessem que os problemas tinham se originado no setor de manutenção do aparelho, pois com o tal neoliberalismo globalizador, a terceirização além de sugerir uma espécie de tropical neoescravismo ainda pagava mal, e os serviços técnicos e de manutenção eram precários, incorretos e insuficientes, como alguns funcionários da Infraero já denunciavam, sem que isso no entanto fosse resolvido, pois era tudo uma fachada na insana e amoral nova ordem econômica do mundo e seus impérios inumanos.

Lá estava na Rua Pássaros Azuis, quando garrou o sentido dos monturos, dos escombros, da desolação, do desmonte de um plano linear todo. Passara mais de vinte vezes por ali, sabia cada marca de explosão, cada pedaço de telha, cada naco de aço, como se esculpisse no íntimo uma imagem que lhe recuperaria, não a nave destroçada apenas, mas a sua alma andante, traria de alguma maneira a sua adorável filha Luz, seus entes queridos. Era uma via crúcis dolorosa como uma canga. Policiais, vigias, autoridades fardadas ainda iam e vinham por ali, mas já tinham ouvido dizer que a tipa estava louca com a perda bem marcada em sinais, destroços, neuras. Sabiam generalizadamente lidar com ela. Um espectro?

Ela é que não sabia lidar com as perdas, com o adeus, com uma ruptura tão ruim de aceitar. Tantos estudos e nada. Faltaria conteúdo? A vida era mesmo como se uma espécie de porta-lapsos. Fez o mesmo trajeto rotineiro. Tropeçou em pessoas, desvirou lânguida entre cães rueiros, pisou pedaços de parafusos enferrujando, sentiu o velho cheiro queimado de óleo, viu rugas no chão, tentou se desfazer das estrias da alma, mas estava depauperada, precisava ser internada e se tratar, não estar descascando feridas mal cicatrizadas, o que, certamente, a levaria ao inferno de tantos traumas novos, talvez até uma depressão e um final fatal, pois que, entre quizilenta e esquizofrênica, podia até mesmo atentar contra a própria vida, tal o desmanche do íntimo de si, na carranca de enfermidades interiores, terminais.

Era só mais uma visão, uma estadia, uma peregrinação. Uma lixação de foro íntimo. Depois se iria embora talvez mais aceitadora, não perdoando no entanto um Deus que lhe tirara a filha única, Luz, de mais de sete anos de idade, que era mesmo a sua inteira razão de viver plena e feliz. Desolada, era quase um fantasma ali, no cenário de angústias. Pensava na filha Luz: magra, loira, olhos da cor do mar, lábios finos, cabelos amarelos como o sol e em feitio de talharim. A menina tinha uma candura toda própria, uma serenidade fora de série, parecia mesmo uma artista, um anjo. Era a sua razão de ser mulher, mãe, fêmea, pessoa. Era todo o seu tesouro aquela menina sensível, inteligente, precoce, dada a tantas leituras e a compor desenhos primitivos.

Mas naquele dia uma coisa nova, surpreendente, aconteceu. Há um Deus?

Árvores arrancadas. Restos de pacotes perdidos. Arbustos queimados por querosene. Amontoados de tijolos. Papéis soltos entre etiquetas e plásticos. Marcas de horror, restos de brinquedos, malas, estilhaços de vidros. Já estivera ali, sabia de cor e salteado o mapa de uma dor que não vingara ainda a reconciliação consigo mesma. Estava insatisfeita e campeava rota de fuga. Não há sensações no esquecimento, já disse o poeta. Há um ponto de fuga na sofrência?

Estranhou aquele naco de uma espécie de tijolo queimado do lado. Esquisito. Na mente fotográfica não constatara aquilo anteriormente. Sinal de alerta. Instinto aguçado? Com o pé de bailarina direito em um mocassim trinta e oito de grife inglesa, verificou o espaço completo e viu alguma coisa. Sentiu um elástico inexistente puxar um favo no peito amargo. Toleima? Há sabedorias na morte.

Se abaixou e tirou do fundo de uns amontoados, o maior pertence de uma busca que talvez findasse ali, naquele ato de se abaixar e se levantar. Um álbum? Conhecia-o.

Deus do céu!

Reconheceu de presto a letra na capa do caderno pequeno e delicado de anotações pessoais da filhinha Luz. A letra fina, delicada, quase um desenho de grafia especial. Na capa o nome escrito da filha em alto relevo, uma figurinha de chiclete mal colada e o cor-de-rosa de plástico cheio de fumaça, riscado, manchado, umedecido, como se aquele achado viesse de dentro de algum lugar que pegara fogo, ou de dentro de um inexplicável devão de um lugar muito além do incompreensível, muito além da existência, muito além da imaginação.

Isaura abriu aquele tesouro já debulhando pétalas de lágrimas. Cada ato era um desmonte. Cada movimento um balé de sofrência. Sentou-se na calçada com marcas de rasgados por ferro e fogo, e foi como uma louca até as anotações eventuais numa folha de data possivelmente de dias anteriores, virando, folheando, campeando sinais, lições, e lá estava a filha dizendo do bolo de limão que a mãe fizera na tardinha da véspera do acidente, da expectativa louca da viagem pra Curitiba com os tios adorados.

Então Isaura sentiu uma presença no mais ferido de si. Um toque? Um leque parecia abanar seu espírito atribulado. Seixos íntimos.

Com a mão trêmula abriu a página do dia do acidente, cinco de outubro. Não acreditou. Estavam lá as narrações de momentos que antecederam a viagem, a filha descrevendo tudo da casa até o aeroporto, pior, narrava também do que sentira dentro do avião, e, ainda, Deus do céu! descrevia os últimos momentos… que eram eternos… para sempre… inacreditáveis…

(Preparou-se para chorar) – Esgotamento nervoso. Célula mártir. Nau frágil nos bastidores da dor. Pertencimentos de libertação – do carbono querendo ser diamante…

-Querido Diário

Vou com meus tios adorados, Tio Ítalo e Tia Sandra irmã de minha mãe, visitar uma distante prima graciosa da família, que é de Itararé mas mora atualmente em Curitiba, e que dizem que é a melhor cidade do mundo para se viver. Vamos lá conferir isso por uns dias, passear, prosear, curtir. Tô ligadíssima.

Estou feliz, em que pese uma certa preocupação estranha nalgum lugar qualquer da minha cabeça, como se uma enxaqueca que ainda virá, algo realmente muito estranho, mas é exatamente isso o que eu sinto. Nem piei o problema pra minha mãe, ou ela empacava e não me deixava vir. O embarque está atrasado porque o tempo fechou em Congonhas, fez frio, choveu, e eu estou aqui no saguão do aeroporto lotado, meu tio-coruja foi comprar jornal, minha tia foi buscar um sorvete de morango, e eu escrevo insistentemente, ao mesmo tempo em que olho gente produzida bem apressada e bonita indo e vindo, o serviço de informação dizendo de voos que chegam e saem fora do horário, alguns sinais de pânico, correrias, informações, movimentos, agito. Adoro isso. Adoro esse lugar. Estou muito contente, tudo é muito legal. Minha primeira viagem de avião. Mamãe não pode nos trazer pois tinha que ler uns ensaios e monografias de seus três alunos de mestrado, mas eu vim de táxi com meus tios que são apaixonados e felizes, e parecem eternamente em lua-de-mel, saradinhos e perfeitos que são, aliás, “sangues bons”, como diria o Tito, o cara com quem eu queria namorar mas estava só ficando, e que parece mesmo me curtir pacas, ele é “da hora”.

………

-Minha tia voltou. Tomamos sorvetes. Ela me trouxe bombons também. Trufas. Adoro chocolate. Meu tio lê jornal e ouve Beatles no walkman. O voo parece-me que deve sair logo.

…………………………………………………………………….

-Estamos no saguão de embarque. O telão digital informa que houve um pequeno problema com o avião no hangar. Deve demorar mais que o previsto. O sorvete estava uma delícia. Pego um jornal mas não consigo ler, empresto pra minha tia Sandra que é um doce. Meu tio tem experiência em viagens e tenta me animar exageradamente, contando causos de Itararé, sua terra de origem, além de implicar com minha blusa branca que mostra o umbigo. Pra um tio ele é muito ciumento, e, às vezes, mas só as vezes, algo quadrado e cafona também.
-Minha tia passa um pito nele, pois passou uma loira alta, oxigenada e se rebolando toda como uma geleia diet, e ele meio que disfarçadamente deu uma sapeada na perua, mas ganhou também um beliscão que pelo jeito doeu um pouquinho, pois ele murmurou algo, meio enfezado mas querendo disfarçar a dor, cara de pamonha.

-Estou dentro do avião. Estou com medo. Sinto alguma coisa no ar. Minha tia pega minha mão. Meu tio que se diz viajador, faz o sinal da cruz e beija o dedo polegar direito. Que velhaco e medrosão esse tio adorável. Não estou com medo exatamente. Não é isso. É só um mal pressentimento, talvez coisa assim de marinheira de primeira viagem. Mas para tudo tem a primeira vez, como tem a última. O avião está taxiando na pista. Estão arrumando o aeroporto. Vejo pela janelinha. Umas aeromoças falam isso e aquilo de rotina para o avião lotado. O piloto se apresenta e diz se chamar Rafael Corrieri, se captei bem. Estamos levantando voo. Interessante que vem um cheiro azedo de algum lugar, mais um chiado, me parece, tudo bem discreto, mas um chiado. Um vazamento? Sim, cheiro de queimado. Alguém estaria fumando sem poder? Vejo que uma aeromoça passa correndo por nós. Estamos no ar.

O piloto tenta falar de alguma coisa como complicações normais mas o som engasga. Há estática, o rádio de bordo falha. Não quero ouvir. Escrevo, escrevo, risco, desenho, rabisco, garatujo, tento esquecer isso tudo aqui e agora. Posso ver que alguma coisa ilumina a parte traseira e um calor estranho vem de trás de nós. Minha tia sem dizer um ai ou fazer um gesto de preocupação tem os olhos cheios de lágrimas. Meu tio está verde como o Hulk meu personagem de gibi predileto. Pelo olhar deles, pelo zunzunzum, pelo tumulto de falas desconexas e o barulho do motor pipocando, a nave a chacoalhar, penso que alguma coisa ruim vai acontecer, espero estar enganada.

Deus do Céu! o avião perde altura. Escrevo para fingir, fugir, olho rapidamente sem querer ver as casas lá embaixo se aproximando rapidamente, ouço gritos, nomes de pessoas queridas, pedidos de Deus, santos, o som vai e volta, tudo cheira a queimado, voam estilhaços, agora eu acho que vou encostar a cabeça no ombro de minha tia que parece gelada e parar de escrever, chorar, dormir, porque…


(Tudo se apaga de repente. Alguma coisa se desligou. Do tumulto horrível para um silêncio gelado. Da dor de alguma coisa se rompendo em milhões de estilhaços, a um cheiro forte de uma dor que me vem podre e ruim. Sangue humano, inferioridade. Um vento fino que não é desse mundo penteia o cabelo invisível do meu tio truncado num assento invisível que o mantém de alguma forma preso no ar. Não ouço nada. Todos estão mortos. Eu também estou. Então morrer é só isso?

Ser morto é isso mesmo, quase a mesma coisa, pois o espírito respira o baque, sonda o novo habitário. Outra dimensão? Um cheiro quente de um jasmim muito diferente no ar que parece radioativo. Parece que milhões de olhos me resgatam de algum lugar, para lugar nenhum. Estou em paz. Uma paz que me veste como uma pele que não vejo mas sinto…

Já estive aqui antes, centenas de vezes. Parece que há uma linha fina meio cristalizada que de alguma maneira inexplicável formata o avião recomposto de novo em outra estranha viagem, outra dimensão, muito além do meu conhecimento. As pessoas passam horrorizadas por mim como se num bólido de luz e dor, e depois de alguma altura dessa espaçonave já andam dormindo, dão a mesma volta como se num espiral, num carrossel do tempo se recompondo em imagens, algumas com lágrimas secas, ocas, outras já mais serenas descansando o peso da vida, como se a bruma da morte de algum jeito confortasse a dor da ruptura muito além do fim do mundo. Vejo minha tia mas ela não me vê. Ela está mais calma. Parece ser transparente. Como se fosse de um jeito invisível mas táctil…

Meu tio procura alguma coisa no chão, como se quisesse achar um par de óculos que não precisa mais para enxergar o que ainda verá e se surpreenderá de ver nessa dimensão-luz. Não me reconhecem em mim. É como se eu fosse muito mais para deles, muito mais do que eu imaginava.

É como se fôssemos um só, pela energia que nos une, nos inspira, nos junta, nos formata num só elo, pois somos o centro irmanado desse eixo. Então eu sei tudo, eu tenho a exata sensação de uma verdade eterna. São meus pais, não meus tios. Bem que tinha ouvido umas conversas fiadas. Bem que minha intuição os amava mais que a tios simplesmente.

Sim, o que seria o doador para minha mãe, na verdade doou pra minha tia, que, com a soma de seu óvulo, depois de um tratamento caro, foi finalmente inseminado em minha mãe que tem problema no ovário. Enfim, minha mãe e meu pai verdadeiros são meus tios, minha mãe de registro não podia ter filhos, apenas provocou uma situação que por si só não se sustentou pois me perdeu agora.

Como agora estamos juntos finalmente os três, e não era para eu ter nascido filha de minha mãe de papel, mas um dia no futuro dos meus tios que são meus verdadeiros pais biológicos por milênios, fomos todos finalmente juntados de novo, e nesse estágio recolhidos para uma esfera superior.

Meu pai que era meu tio me viu, quero dizer, meu tio que é meu verdadeiro pai de luz me viu e me abraça, conversa comigo mentalmente. Que energia é essa além da morte e seu véu tenebroso? Traz minha tia que é a minha mãe de luz e ambos me abraçam. Sou energizada por essa luz central, matrix, cósmica. Somos um só agora. Juntos novamente, juntos para sempre.

Estamos de novo voando, mas não num voo humano, táctil, não numa espécie de cavalo metálico se assim se pode dizer, mas como se uma nave-bruma nos levasse para algum lugar muito além do sol, uma outra dimensão eternalmente superior, infinitamente melhor…

Uma voz mental me fala que devo largar esse álbum que não vale nada. Eu nem sei com que mão (que não vejo!) o escrevo, escrevo essas páginas enormes, mas, entre uma dobra do tempo e uma dimensão-luz eu finalmente me desapego – pra que serve isso tudo mesmo? – e o largo sem mais nem menos, ele faz parte do outro lado da zona morta, não é daqui, árvore morta, não me interessa agora, para onde vou não existe tempo futuro, presente, passado, talvez até nunca mais precise desse bobo diário de bordo depois de uma situação dessas, e além dessa minha primeira e única viagem ali se desmanche na fricção da atmosfera, ou suas folhas brancas virem úmidas pétalas aéreas de luz feito lágrimas de adeus, e sirvam em algum lugar, para algum motivo, por algum milagre entre nuvens, ventos, pássaros, raios ultravioletas…

Estou voando agora.

Um voo diferente. Inexplicável.

Eu sou Luz. Eu posso.

Apesar de tudo eu estou feliz.

Todos deviam se sentir assim.

É maravilhoso.

Estou num lar muito além do conhecimento humano.

Estou voltando pra casa.

Tenho que parar de escrever agora porque estamos na zona limite da… porque… eu …)
-0-
Silas Correa Leite

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Silas Correa Leite [Poeta, Escritor, Jornalista Comunitário e Educador Brasileiro]

Silas Correa Leite. Educador, Jornalista Comunitário e Conselheiro em Direitos Humanos, começou a escrever aos 16 anos no jornal “O Guarani” de Itararé-SP.

Fez Direito e Geografia, é Especialista em Educação (Mackenzie), com extensão universitária em Literatura na Comunicação (ECA).

Autor entre outros de “Porta-Lapsos”, Poemas, Editora A

Poema Cristo Crucificado

Tomo tu dolor, Cristo crucificado
Y quiero bajarte de ese horror
Quiero arrancar el clavo en tus pies clavado
Para darte el conforte de mi simple amor
Siento dolor, Jesús, al mirar tu estado
Y quiero salvarte de ese terror
Liberar tus brazos abiertos del madero armado
Cantarte una cantiga, darte un
cobertor.

Siento tu dolor, mi Dios, allí clavado
Que vier

Livroterapia

Biblioterapia, a Terapia da Leitura Que Cura Almas, Corações e Mentes

Livroterapia, Um Remédio Caseiro e Casual Que Escancara e Cura?

-Doutor, estou com graves problemas emocionais, de depressão a falta de apetite, de baixa estima a obesidade mórbida, que remédio o sr me indica?

-Leia o livro tal. Você vai adorar. Vai fazer um bem enorme pra vc. Pratique es

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