Coração de Estudante

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“Coração de Estudante(…)/Nova aurora a cada dia…”
(Milton Nascimento – Coração de Estudante)

Pensa que é fácil? Levantar cedo, todo santo dia útil. Um monte de “Professor Pardal” a mil por hora pegando no pé. Textos didáticos, lições por atacado, trabalhos aos montes, livraços para ler aos sopetões, um atrás do outro. Simulados às pencas. Pesquisas do arco da velha. Ensaios psicológicos para agüentar o tranco. Avaliação contínua. Conversa pra boi dormir. Provas a dar com pau, uma loucura. Haja coração. Pesquisas, debates, laboratórios, pressão saindo pela tangente, quase um faniquito entre o stress e a faca cega da sobrecarga de informações. Aluno sofre, se não entrar no pique. Não dá nem para sonhar em “cabular” aquela chata aula sobre física quântica. Nem pra namorar direito a gata-fera pedaçuda. Muito menos descolar uma horinha para curtir um filme de terror, um futebol de botão que seja, uma praia no final de semana, que já foi agendado para um compromisso com livros obrigatórios e teses com dicas sobre o bendito do vestibular. Ufa!
Ora é o pai cobrando: -Se não tirar nota boa, não tem Festa de Aniversário. E agosto taí, na estica. Tem que rachar. Ora é a mãe-zoológico (mãe-coruja é um bicho só, zoológico é a fauna universal toda dela) dando chute na sombra: -Tire já esse tênis sujo que tá com um fedor de chulé do tempo do Noé na Arca, guri. Ora a irmã caçula, a Maria Cebola, querendo colar afeto e esparramar graceza: -Você me ajuda na prova de Biologia, Júnior? Você é o sabichão de casa…
Aluno sofre. O professor, então, aquele com cara de Raul Seixas depois da dengue, casca grossa no último, falando, escrevendo, explicando, escrevendo, explanando que até dói tanto conhecimento despejado a bel prazer, e ainda atiçado, maroto no sondar: -Você está conversando, Júnior?
Vida corrida. Salve-se quem puder!
Às seis da matina, mal o sol levanta a crista pra fora do horizonte lá longe, lados da divisa com os calipiás do Paraná, desodorante, nescau, mochila, banho rápido – não necessariamente nessa ordem – (olha o apagão!), perua, escola, correria. Sem tirar nem pôr. Os amigos todos apavorados. Vai ter prova de novo, ai Jesus! Trouxe cola, mano? Nem pensar. Meu pai me mataria mil vezes. Uma hora é natação (borboleta), depois inglês (gramática britânica), à tarde Informática (webmaster), à noite lição de casa, vinte e duas matérias, leituras obrigatórias, apostilas. E aquele jogo da seleção? Tem dia que se improvisa uma espécie de janta assistindo uma final de campeonato importante, com a mão direita rascunhando um texto do Frei Beto ou Rubem Alves, com a esquerda sustentando um sanduba com bacon. Uma loucura, cara.
-Já fez o Trabalho sobre História Medieval, Júnior?
-Precisa cortar esse cabelo de maloqueiro, filho!
-Maninho, cê me leva no Baile do Hawai?
-Chamada Oral, Júnior!
Se…eu entrar na Federal. (Vão raspar meu cabelo estilo Carlos Casagrande, vai ser uma alegria total em casa, vou faturar de-primeira esse Vestibular caipora).
-Se…eu conseguir aquela Bolsa de Estudos, aquela mina de olhos da cor do mar, aquela moto importada. Quero fazer Medicina, cara.
Se…eu vencer na vida, vou virar doutor, fazer pós no Canadá, casar, ter filhos e, a mesma coisa, o mesmo lenga-lenga:
-Vá estudar, guri! Onde já se viu?
Vida de aborrecente ou jovem, é assim mesmo. Preparando as escadas do futuro. –Bença, Mãe! – Deus te abençoe, Curumim. Desligue essa tevê, piá. – Ora velho, é só um filminho sensual, pega leve. –Ora, Júnior, não maroteie seu pai!
Você cresce e aparece. A concorrência é fogo. Você fica duro na queda. Cria coragem. Empata juízo. Fica forte. E digno. Como dizia o Gonzaguinha (ídolo de MPB de seu pai), você se torna GENTE MAIS MAIOR DE GRANDE. Tá errado o português?. Levou quem trouxe!
O primeiro amor, o primeiro emprego (estágio é tudo, diz a moça caruda que faz a seleção), a primeira prova de fogo. Viver não é lutar?
(Um dia, quando você for velho – as sabedorias são sábias, dizia meu querido e saudoso avô, à beira do rio Itararé – você vai se lembrar com orgulho do tempo em que era forte, tinha saúde, corria, LUTAVA!)
Nem todos realizam seus sonhos. Você tem que correr atrás. Não pode ficar no prejuízo, e ter que pagar a conta na incompetência, da ignorância, ou passar em brancas nuvens. A concorrência é barra pesada. Não há vagas pa ra todos nas faculdades. Não há empregos para curiosos. É um preço duro a pagar. A seleção do mercado de trabalho é dura. Muitos são chamados e poucos escolhidos?
Guimarães Rosa. Projeto Genoma. Neoliberalismo, Globalização. Efeito Estufa. Tudo a ver. Você vai ser um “Gente Grande”. Pessoa. Cidadão. Não é isso que vale a pena? Drogas? Nem pensar. O nome já diz tudo. CDF. Ainda bem. Graças a Deus. O mundão pertence aos que lutam para melhorá-lo. Não há sensação no esquecimento. Nem adianta chorar sobre leite derramado. É preciso coragem. Deus é Dez? Estudar, trabalhar, ler muito, isso é que é vai fazer a sorte nossa de cada dia.
-Vá dormir, guri, deslique esse computador. Olha a hora. Você não tem Simulado amanhã no Colégio Athenas?
-Adoro você, Mãe!
-Deus abençoe, guri. Você é o filhão que pedimos a Deus. Estamos investindo no seu futuro, confiando, dando corda, apoiando. Estamos aqui pra isso mesmo. Vá dormir…
-À bença, Pai!
-Ele já ferrou no sono, Júnior. Amanhã ele vai ter que levantar cedo para ir batalhar novo emprego outra vez.

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Silas Correa Leite [Poeta, Escritor, Jornalista Comunitário e Educador Brasileiro]

Silas Correa Leite. Educador, Jornalista Comunitário e Conselheiro em Direitos Humanos, começou a escrever aos 16 anos no jornal “O Guarani” de Itararé-SP.

Fez Direito e Geografia, é Especialista em Educação (Mackenzie), com extensão universitária em Literatura na Comunicação (ECA).

Autor entre outros de “Porta-Lapsos”, Poemas, Editora A

Poema Cristo Crucificado

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Y quiero bajarte de ese horror
Quiero arrancar el clavo en tus pies clavado
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Y quiero salvarte de ese terror
Liberar tus brazos abiertos del madero armado
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