Eugenia
Texto: |
Para Eugenia Melo e Castro,
Cantora Portuguesa
Hoje eu te vi cantar pela primeira vez
E havia naus seculares no remanso de teu cântico em deleite
Tua voz vinha como um cravo vermelho na iluminura do
rosto
Que até amanheci minha matiz poética.
[Hoje te ouvi numa voz que sorria no soar
E teus olhos tinham estilhaços de velas acesas trazidas da
alma
Tua voz tecia o bilro – num tear de azulejos íntimos
Que plantei petúnias nos sonhos]
Hoje te vi cantar pela primeira vez
E sei que apenas foi um Reencontro
De milênios.
[Mas não chorei
Loucos não choram nunca mais.
Loucos escrevem-se
E ouvem chamados íntimos, antigos; de um, agora, inexistente
Cais.]
Hoje te vi cantar
E não voei, não escrevi, não tomei cerveja preta
Pus-me a te contemplar água viva
Estrela do Mar na âncora do meu Ser Nau Catarineta.
Sei que voltarás para o Rio Tejo
Portugal está em tua face como um mapa de erranças
E em teu canto como um vento noturno de incensos
Depois nunca mais te verei, olhos castanhos
Talvez nunca sejamos apresentados
Mas teu canto é teu elmo.
Eu sou um pobre – e triste e simples – poeta brasileiro
Com meu floretim de pelica
E minha poesia de damascos e desertos sem fim.